Título: Copom - O que se espera das próximas reuniões
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Fonte: O Estado de São Paulo, 11/06/2010, Economia, p. B2
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) não surpreendeu ninguém: todo mundo sabia que, um ano depois de ter reduzido a Selic a um dígito, o Copom voltaria a fixá-la em 10,25%. Os índices de inflação, embora com ligeira tendência de baixa, e mais ainda o resultado do PIB no primeiro trimestre do ano, refletindo um nítido aquecimento da economia, estavam justificando uma decisão como essa.
Embora o Copom sempre tenha afirmado que as decisões monetárias demoram cerca de seis meses para surtir efeitos, não há dúvida de que a de quarta-feira vai ser logo acompanhada de uma elevação da taxa de juros do mercado, como também por um aumento dos juros pagos pelo governo sobre a dívida interna.
Mas essa decisão, no início da campanha eleitoral, mostra a independência de fato do Banco Central - o que não impedirá que se reabra a discussão em torno dela, especialmente levando em conta que o Copom, no seu breve comunicado depois da reunião, deixou bem claro que seu objetivo é conduzir o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ao centro da meta de inflação e, para isso, continuará com sua política de aumento progressivo da taxa Selic.
É esse anúncio de uma elevação progressiva da taxa básica de juros que dará força aos que condenam essa política monetária que já está recolocando o Brasil entre os países com a maior taxa de juros do mundo.
Seria importante que o Copom, nas suas próximas reuniões, levasse mais em conta dois fatores: a tendência da pressão inflacionária e, paralelamente, a evolução da economia. Não se pode ter ilusão quanto à possibilidade de a inflação recuar de tal modo que permita o cumprimento da meta do governo. Em contrapartida, pode-se prever um ritmo mais lento de crescimento.
Seria útil levar em conta a qualidade do crescimento, que pode ser muito diferente se for fruto do aumento dos investimentos ou apenas do consumo das famílias.
O que nos parece essencial é que o Copom manifestou a sua vontade de que, voltando a normalidade, possa seguir uma política de redução progressiva da taxa de juros básica até atingir o nível que ela apresenta nos países com inflação menor que a do Brasil. Isso para que a vida econômica possa se desenrolar num clima que permita enfrentar a concorrência internacional e para que o governo volte a pagar um juro sobe a dívida pública nitidamente menor. Em resumo, trata-se de se livrar definitivamente do sistema de indexação, que continua envenenando o mercado financeiro que se recusa a perder com a inflação.