Título: Entrada da gestante no sistema não deve ser postergada
Autor: Thomé, Clarissa
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/06/2010, Vida, p. A12

O serviço público, nas Unidades Básicas de Saúde, ainda não tem cobertura laboratorial que permita cumprir todos os protocolos que são preconizados pelo Ministério da Saúde para o pré-natal. Então, quando se tem evidência de uma gravidez de risco, a gestante, quer seja ela portadora de uma morbidade clara ou portadora de uma morbidade a ser investigada, demora para obter a consulta na rede referenciada e demora para conseguir fazer os exames.

Claro que a gente não se baseia apenas na análise laboratorial para avaliar a condição de gestação de risco. A clínica é soberana. Mas hoje a gente sabe que, se tiver fatores de risco verificados precocemente, é grande a possibilidade de reduzir a mortalidade infantil.

Existe um grupo de exames básicos, como glicemia, VDRL (para sífilis), ultrassom precoce, tipo sanguíneo, valores de enzimas hepáticas, que revelam fatores de risco. A rede básica deveria ter condição de atender essa mulher imediatamente. Mas não é isso o que acontece.

Uma mulher com glicemia alta ? o que pode significar diabetes gestacional ? leva em média de 30 a 40 dias para chegar ao serviço referenciado, que vai acompanhar a gravidez de risco. Para ela conseguir fazer exames mais complexos, como a medição da taxa de glicose oral e sérica (ela toma reagente e colhe o sangue de tempos em tempos) leva mais tempo ainda. A cada dia o quadro se agrava e o impacto será após o nascimento da criança. São entraves que a gente não consegue resolver no pré-natal. É preciso que os municípios invistam em unidades de referência para a gestação de risco, que tenham laboratórios ágeis e que não se postergue tanto a entrada da gestante no sistema.

PROFESSORA DO DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM MATERNO-INFANTIL E PSIQUIÁTRICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE; DOUTORA EM ENFERMAGEM OBSTÉTRICA PELA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO