Título: Emoção e aplauso na cremação de Saramago
Autor: Nobile, Lucas
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/06/2010, Vida, p. A14

Cortejo fúnebre do escritor foi ovacionado no centro de Lisboa; admiradores levaram cravos vermelhos

O corpo de José Saramago foi cremado ontem, pouco depois das 9 horas (horário de Brasília), no cemitério do Alto de São João, na capital portuguesa, diante da presença de familiares e amigos. Após o funeral, realizado na prefeitura de Lisboa, onde o caixão do escritor foi visitado desde sábado à tarde por milhares de pessoas, o cortejo fúnebre percorreu o centro da capital entre muitos aplausos.

Durante a cerimônia de cremação, a viúva do escritor, a espanhola Pilar del Río, declarou que morreu "um homem bom, uma excelente pessoa e um escritor magnífico" e acrescentou que só deveriam chorar "os que não o conheceram".

O caixão, coberto com a bandeira portuguesa, entrou no crematório em meio à ovação de mais de dez minutos das pessoas que se aglomeravam diante das portas, levando cravos vermelhos, símbolo da revolução portuguesa de 25 de abril de 1974.

A filha do primeiro casamento de Saramago, Violante, e os dois netos do escritor também acompanharam a cerimônia ao lado de intelectuais e autoridades portuguesas e espanholas. A vice-presidente do governo espanhol, María Teresa Fernández de la Vega, que liderava a delegação, fez um breve discurso de homenagem na cerimônia realizada na prefeitura.

Ex-presidentes como Jorge Sampaio e Mário Soares e muitos políticos da esquerda portuguesa, incluindo a direção do Partido Comunista no qual o escritor militou até sua morte, assistiram aos atos, presidido pelo prefeito Antonio Costa.

Ausências. Os meios de imprensa portugueses destacaram as ausências de políticos importantes, como o presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, e o atual presidente do Partido Social Democrata (PSD) e líder da oposição, Pedro Passos Coelho.

Ainda não houve uma declaração oficial sobre onde ficarão as cinzas do escritor. Desde anteontem se cogitava a possibilidade de elas serem divididas entre a aldeia de Azinhaga, no Alentejo, onde Saramago nasceu, e Lanzarote, nas Ilhas Canárias, já que o escritor havia manifestado que gostaria de ter suas cinzas depositadas na propriedade onde morava desde 1993. / Com EFE

Legado JOSÉ SARAMAGO ESCRITOR PORTUGUÊS E NOBEL DE LITERATURA

"Ser demitido foi a maior sorte da minha vida. Foi o início da minha vida como escritor."

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