Título: Um pé no freio e outro no acelerador
Autor: Rehder, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/06/2010, Economia, p. B5

ENTREVISTA

Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central

Para o ex-presidente do Banco Central e hoje sócio da Tendências Consultoria Integrada, Gustavo Loyola, o ritmo de crescimento da economia vai desacelerar a partir de agora, mas a inflação continuará sob risco.

Quais são as principais sinalizações do PIB?

A economia estava muito aquecida. O primeiro trimestre realmente foi muito forte em termos de crescimento da atividade econômica. Anualizados, esses 2,7% dão mais de 11%. É crescimento chinês mesmo. Um destaque foi o crescimento da formação bruta de capital fixo, que são os investimentos. E é normal que cresçam nessa fase de recuperação. Primeiro recupera o consumo e depois vem o investimento. Outro destaque foi o crescimento da dependência de importações, o que mostra que a absorção doméstica estava crescendo a uma velocidade acima do crescimento da oferta.

O tempo do verbo no passado significa que o auge já passou?

Está desacelerando. Isso é uma situação anormal que vem de um processo de recuperação cíclica. A economia caiu e vem se recuperando. Nesse período, tende a crescer mais rapidamente, mas não é sustentável. Nós já esperamos crescimento mais modesto para o segundo trimestre, de maneira que vai ao longo do ano se aproximando de um avanço mais contido, de 6,6%.

A inflação continua sob risco?

Sim, e é preciso apertar mais a política monetária. O ritmo de crescimento da demanda é bem superior à capacidade de atendimento da oferta, o que gera pressão inflacionária. É para se antecipar a essa questão que o Banco Central iniciou a alta de juros na última reunião do Copom e deve continuar mais um tempo ainda.

O sr. revisou sua estimativa para a decisão do Copom?

Continuamos na mesma: alta de 0,75 ponto porcentual. Na realidade, projetamos três altas adicionais de 0,75 e uma alta de 0,50 por ocorrer. O resultado será uma taxa de 12,25% ao ano. Com isso, a gente cresceria esse ano em torno de 6,5% e o ano que vem, se a política monetária não mudar, a gente poderia estimar um crescimento de 4% a 4,5%. Acredito que o potencial de crescimento do Brasil esteja em torno desse número.