Título: Cai previsão de investimento externo
Autor: Graner, Fabio; Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/06/2010, Economia, p. B4

Banco Central revê projeção de entrada de investimento estrangeiro direto no País este ano de US$ 45 bilhões para US$ 38 bilhões

O Banco Central (BC) anunciou ontem a redução em US$ 7 bilhões (15,5%) da projeção de Investimento Estrangeiro Direto (IED) no País em 2010. O banco espera agora que entrem US$ 38 bilhões no País para investimentos na produção, em comparação aos US$ 45 bilhões projetados anteriormente.

A nova previsão mostra um significativo aumento na necessidade de outras fontes de dólares ? como investimentos em renda fixa e ações ? para bancar o saldo negativo na conta corrente da balança de pagamentos. Essa conta registra as operações de comércio, serviços e rendas do Brasil com o exterior e sua estimativa de déficit para 2010 foi mantida em US$ 49 bilhões.

Segundo o chefe do Departamento Econômico do Banco Central (Depec), Altamir Lopes, a redução na expectativa para o investimento estrangeiro em produção em 2010 se deve ao fraco desempenho do início do ano. Mesmo com o saldo mais alto para meses de maio da série histórica ? US$ 3,53 bilhões, resultado influenciado por uma grande operação da indústria química ?, os investimentos diretos de janeiro a maio de 2010 somaram US$ 11,41 bilhões. O volume é praticamente igual ao de igual período de 2009 e bem abaixo do necessário para atingir a estimativa anterior do BC para o ano.

Altamir disse que a expectativa de investimentos no segundo semestre é "bastante positiva", por causa da demanda por obras de infraestrutura e também da expectativa favorável de crescimento da economia brasileira. Ele relativizou o fato de o investimento na produção não estar sendo suficiente para cobrir o déficit em conta corrente este ano, que já soma US$ 18,75 bilhões. Nos últimos 12 meses, encerrados em maio, o déficit em conta corrente somou US$ 36,45 bilhões (1,94% do PIB) e o investimento direto, US$ 26,13 bilhões (1,39% do PIB). "IED cobrindo todo déficit externo é o ideal, mas nem sempre é assim. O importante é que o balanço de pagamentos se mostra perfeitamente financiável."

O chefe do Depec destacou que a trajetória do déficit em conta corrente não deve ser considerada explosiva. Para ele, a tendência é que nos próximos anos esse indicador se estabilize na casa de 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB), que é a projeção para este ano, ou um "pouco mais". Em sua história, o Brasil já conviveu com déficits externos de 4% e 5% do PIB, que geraram crises na economia nacional. A aposta de Altamir é na recuperação da economia mundial, que elevaria as exportações brasileiras, controlando o déficit externo.

Reservas. O técnico destacou que o País conta com um elevado colchão de reservas, que serve de proteção contra problemas de falta de financiamento externo. E que o País convive com uma diferença estrutural no balanço de pagamentos. Hoje, as contas externas, com grande presença de investimentos diretos, se ajustam com as flutuações da economia, reduzindo despesas de remessas de lucros quando a economia se retrai.

Para o ex-diretor do BC Carlos Thadeu de Freitas, o quadro das contas externas de fato está piorando e a trajetória demanda alguma preocupação, mas a situação ainda não se tornou perigosa para a sustentabilidade da economia brasileira. Segundo ele, é importante reduzir o déficit e não depender de capitais voláteis, como investimentos em ações e renda fixa, para financiá-lo. Freitas sugere que, para reduzir o déficit, o governo precisa apertar o lado fiscal, reduzindo os gastos e a demanda interna.

O economista da Tendências Consultoria André Sacconato não vê com preocupação a situação do balanço de pagamentos brasileiro. Para ele, a tendência é que o IED melhore ao longo do ano e cubra boa parte do déficit em conta corrente. Ele também defende a tese de que, para reduzir o saldo negativo, o governo deveria conter mais seus gastos.