Título: Minoritários vão à assembleia e atacam operação
Autor: Pamplona, Nicola; Lima, Kelly; Goy, Leonardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/06/2010, Economia, p. B3

Mesmo sabendo que não teriam chances de influenciar a votação, alguns minoritários da Petrobrás aproveitaram a assembleia de acionistas de ontem para externar suas críticas à operação. Entre as poucas manifestações durante o evento, um dos investidores entregou à Petrobrás um manifesto, no qual fala em "extermínio dos acionistas minoritários". A Petrobrás disse não esperar ações judiciais de acionistas contra o processo.

"Os minoritários já foram muito respeitados na Petrobrás. Mas agora é o contrário, nos dão um prazo curto para levantar recursos e acompanhar um aumento brutal de capital", disse o acionista Romano Allegro, autor do manifesto, que veio de Salvador com três outros acionistas para a assembleia. Todos temem diluição de suas participações e alegam não ter dinheiro para acompanhar a União nos valores projetados para a capitalização.

"A União vai participar da capitalização com um petróleo que está a 8 mil metros de profundidade, mas nós teremos de tirar dinheiro do bolso", fez coro Jorge Luis Ferreira Santos, que estava no grupo que veio da Bahia e tem hoje cerca de R$ 110 mil em ações da estatal. "Se houver um aumento de capital de 20%, não terei como acompanhar e perderei receita com dividendos."

Santos e Allegro defenderam uma capitalização menor, com outras operações no futuro, caso haja necessidade. Além deles, um executivo que se disse representante de fundos estrangeiros se manifestou contra a operação. A favor, falaram um representante do banco JP Morgan Chase e da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (Aepet).

Menos de meia hora. Ao todo, cerca de 60 pessoas participaram da assembleia, que teve quórum equivalente a 84% das ações ordinárias (com direito a voto) ? só a União tem 55%. Em menos de meia hora, após o voto da União ? representada pela procuradora-geral da Fazenda Nacional Adrienne Giannetti Nelson de Senna Jobim ?, a assembleia foi encerrada.

O presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, disse que as críticas dos minoritários fazem parte do processo e não vê motivos para contestações judiciais, embora alguns dos minoritários tenham afirmado que iriam avaliar a possibilidade.

Gabrielli passou o dia ouvindo questionamentos também dos analistas do mercado financeiro que acompanham a empresa. Em duas teleconferências, os especialistas voltaram a criticar os elevados volumes de investimentos em refino, considerados de baixo retorno, e as premissas adotadas pela empresa para projetar o futuro: a estimativa de petróleo a US$ 80 por barril, em média, foi considerada otimista pela maioria.

Um analista estrangeiro chegou a sugerir que a Petrobrás comprasse a BP com os cerca de US$ 70 bilhões separados para as refinarias. "Não estamos planejando isso", respondeu, rindo, o executivo. / N.P. e K.L.