Título: Sob pressão, Rússia cancela acordo para venda de mísseis antiaéreos ao Irã
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Fonte: O Estado de São Paulo, 12/06/2010, Internacional, p. A18

Aumento da tensão. Kremlin muda de opinião e anuncia que as sanções aprovadas nesta semana na ONU impedem que o país venda armamentos de defesa aos iranianos; Teerã anuncia que se seus navios forem inspecionados, haverá retaliações no Golfo Pérsico

O Estado de S.Paulo Sanções. Na França, Putin teria garantido a Sarkozy que Moscou não venderia mísseis para Ahmadinejad

Depois de declarar que as sanções aprovadas na ONU não alteravam os acordos militares firmados com o Irã, a Rússia mudou de opinião ontem e afirmou que as punições aprovadas esta semana impedem que o país venda seus mísseis terra-ar S-300 a Teerã.

O acordo de venda havia sido fechado antes da aprovação das sanções. Usados para fins militares, os S-300 são capazes de atingir aviões e outros modelos de mísseis. Moscou insistia no seu direito de entregar o equipamento, apesar da forte oposição dos EUA e Israel.

Na quinta-feira, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Andrei Nesterenko, disse que as sanções não se aplicariam a sistemas de defesa aérea. "As restrições dizem respeito somente a dispositivos ofensivos", afirmou.

Ontem, no entanto, o discurso mudou. Após reunião entre o primeiro-ministro da Rússia, Vladimir Putin, e o presidente da França, Nicolas Sarkozy, um diplomata francês disse que o russo garantiu que não venderia mais os mísseis. Mais tarde, a informação foi confirmada pelo chanceler russo, Serguei Lavrov. Em Moscou, ele disse que as potências estão elaborando um decreto que definirá as armas cuja venda será vetada.

Hossein Ibrahimi, um dos mais influentes parlamentares iranianos, advertiu ontem que o Irã pretende inspecionar os navios estrangeiros no Golfo Pérsico, por onde passa cerca de 40% do abastecimento mundial de petróleo, se seus navios receberem o mesmo tratamento - de fato, as sanções preveem a inspeção de cargueiros ou de embarcações que se dirijam ao Irã.

"Se apenas um navio iraniano for submetido a inspeção, buscaremos a retaliação e faremos inspeções em várias embarcações", disse Ibrahimi, que também é vice-diretor da Comissão Parlamentar de Segurança Nacional e Política Externa do Irã.

Ontem, a tensão aumentou mais depois que a União Europeia anunciou que estudará a imposição de medidas adicionais. Um pacote extra de sanções está sendo preparado e será apresentado para os chefes de Estado da UE, que se reúnem no dia 17, em Luxemburgo. Segundo diplomatas europeus, as medidas devem atingir os setores de energia, comércio e transporte.

O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, disse ontem que o apoio da China às novas sanções não afetarão as relações entre os dois países, mas criticou Pequim e outras potências nucleares por monopolizarem a tecnologia nuclear. Durante visita a Xangai, ele voltou a minimizar a importância da resolução aprovada na ONU. "O governo dos EUA está abusando do poder no Conselho de Segurança para impor sua hegemonia a outras nações", disse.