Título: Com investimento da indústria, Sudeste volta a liderar crescimento no País
Autor: Rehder, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/06/2010, Economia, p. B1

Estudo da consultoria MB Associados mostra que São Paulo deverá ter expansão média anual da renda de 8,1% nos próximos 5 anos

A retomada da indústria começa a mudar a distribuição geográfica do crescimento no Brasil. Depois de o Nordeste ter sido o astro regional da expansão nos últimos anos, a bola da vez agora é o Sudeste. Ao contrário do que vinha ocorrendo, o desenvolvimento será dinamizado mais pela ampliação da indústria e serviços e menos por transferências de renda promovidas por programas como o Bolsa-Família e aumento do salário mínimo.

A expansão da massa de renda (soma todos os rendimentos do trabalho e benefícios previdenciários e sociais) no Sudeste, região mais industrializada do Brasil, teve desempenho medíocre entre 2003 e 2008. O crescimento médio anual no Estado de São Paulo, que concentra o maior número de indústrias do País, foi de apenas 2,9%, já descontada a inflação - o mais baixo entre todas as unidades da federação. No Piauí, essa taxa chegou a 7,9% e na Bahia, a 7%. A massa de renda é o principal indicador da capacidade de consumo de uma determinada população.

Um estudo da consultoria econômica MB Associados mostra que o quadro começou a mudar e o crescimento da renda nos próximos cinco anos passará a ser menos concentrado nas regiões mais pobres. Para São Paulo, a consultoria projeta crescimento médio anual da renda de 8,1% até 2015 (ver quadro ao lado).

"O crescimento não vai mais depender de forma tão intensa de crédito e de transferência de renda como vimos no passado recente", diz o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, autor do estudo. "Será um crescimento mais dinâmico e menos dependente do governo, desencadeado pela própria expansão da economia."

Com a renda em alta, o consumo na região já dá sinais de mudança. O índice Consumo Target, criado pela IPC Marketing Editora há 20 anos, mostra que, em 2010, o Sudeste passa a responder por 52,7% do mercado de consumo do País. No ano passado, o porcentual era de 51,4% (leia mais na página B3).

A retomada do Sudeste fica ainda mais nítida quando se analisa os números de desembolsos do BNDES. De janeiro a abril, o banco desembolsou R$ 35,606 bilhões para financiar investimentos. Desse total, o Sudeste recebeu R$ 19,520 bilhões, o que representa 54,6% do total. Em igual período do ano passado, essa participação era de 48,8%. Já o Nordeste viu sua participação recuar de 9,95% para 7,11%.

Infraestrutura. Uma das razões fundamentais para o Sudeste retomar o posto de motor do crescimento é o fato de ser a região que tem mais infraestrutura pronta e adequada para receber a carga de investimentos que ocorrerá nos próximos anos. Além disso, o grosso dos investimentos na exploração do pré-sal e nos jogos da Copa do Mundo e da Olimpíada está concentrado no Sudeste.

A decisão mais recente de investimento da mexicana Amanco no País reflete bem esse comportamento da economia. Com fábricas em Santa Catarina, Pernambuco e São Paulo, a fabricante de tubos e conexões escolheu a unidade de Sumaré (SP) para aplicar a maior parte dos recursos programados para este ano, que somam R$ 200 milhões. "A fábrica de Sumaré concentra a produção da linha de infraestrutura para rede pública de água e esgoto, que é onde estamos crescendo", afirma a presidente da Amanco do Brasil, Marise Barroso, sem revelar os valores destinados a cada uma das fábricas. O aporte na unidade paulista já se refletiu na abertura de 44 postos de trabalho. Hoje, a fábrica tem 450 funcionários.

A Novelis, maior fabricante de laminados de alumínio do mundo, vai investir US$ 300 milhões para expandir suas operações em Pindamonhangaba (SP). A capacidade de produção na fábrica brasileira será ampliada em 50%, para cerca de 600 mil toneladas de folhas de alumínio por ano, em 2012.

"O objetivo é atender a demanda crescente por chapas de alumínio no mercado nacional e da América do Sul", diz o presidente da Novelis do Brasil, Alexandre Almeida.

A maior parte da produção de chapas é destinada a fabricantes de latas de alumínio para cervejas e refrigerantes. A outra é consumida pela indústria automobilística, de eletrodomésticos da linha branca e de embalagens, entre outros.

Com a expansão da fábrica, deverão ser contratados cerca de 80 funcionários. A fábrica emprega hoje 800 pessoas. "O impacto de geração indireta de empregos é maior, por causa do aumento da renda e da arrecadação de impostos na região", diz Almeida.

Agropecuária. O Centro-Oeste também deverá ser uma região de destaque. "A evolução da agropecuária deve colocar Mato Grosso com boa perspectiva de expansão de renda nos próximos meses", cita o economista-chefe da MB Associados.

A mudança no eixo do crescimento regional do País não significa que o Nordeste não vá crescer. "Estados importantes como a Bahia tendem a ir além das transferência de renda, pois têm dinâmica industrial relevante", observa Vale. Além disso, as transferências de renda via Bolsa-Família e aumento do salário mínimo devem continuar a crescer, embora em ritmo menor.

"Esse tipo de política ajuda a população pobre do Nordeste, mas não cria mecanismos de incentivo para profissionalização e aumento de emprego na região", conclui o economista da MB Associados.