Título: Apesar da alta dos juros, crédito volta a bater recorde
Autor: Chiara, Márcia De
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/06/2010, Economia, p. B4
Estoque de crédito cresce em maio e nos primeiros dias de junho, e chega a 45,3% do PIB, novo recorde no País
Apesar de o Banco Central (BC)ter iniciado um agressivo ciclo de alta dos juros para esfriar o ritmo acelerado de expansão da economia, o crédito no Brasil avança, alimentando o consumo. O crédito cresceu em ritmo acelerado em maio e nos primeiros dias de junho.
De abril para maio, o estoque de crédito para empresas e pessoas físicas teve um aumento de 2,1%. Foi a maior alta de um mês para outro desde julho de 2009 e bem acima da média mensal de 1,36% de crescimento nos 12 meses anteriores. Nos dez primeiros dias de junho, a expansão do crédito continua e já está ainda maior: 2,3%.
As empresas e as famílias estão compensando o custo mais alto dos empréstimos oferecidos pelos bancos com prazos mais longos para pagar.
Recorde. O estoque de crédito chegou em maio ao patamar de R$ 1,5 trilhão, o equivalente a 45,3% do Produto Interno Bruto (PIB), novo recorde. Os dados divulgados ontem pelo BC são mais um sinal de que a demanda interna continua forte e um argumento a mais para os defensores da tese de que há risco de superaquecimento na economia e que o BC deve voltar a elevar os juros.
O avanço do crédito é maior nas empresas, com expansão de 2,2% em maio. Para as famílias, a alta foi de 2%. Em junho, a tendência é a mesma. Nos primeiros dez dias do mês, o crédito para pessoa jurídica aumentou 2,4% e para pessoa física subiu 2,2%.
Mesmo com os juros mais altos, a necessidade de recomposição dos estoques e de capital de giro, diante do cenário de retomada mais forte da economia, tem levado as empresas a buscarem mais financiamento bancário. Do lado das pessoas físicas, o que impulsiona a expansão do crédito é o aumento do emprego, da renda e da confiança na economia, avaliou ontem o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.
Acomodação. Lopes classificou de "expressivo" o ritmo do crédito, mas previu uma acomodação no futuro, embora tenha ressalvado que o tempo em que isso ocorrerá é mais difícil de prever. O Banco Central projeta expansão de 20% no estoque de financiamentos neste ano.
Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, o prazo para a acomodação do crédito é diferente do período de seis a nove meses que leva para o aumento da taxa Selic ter impacto na economia. Outras variáveis estão em jogo dando gás para o crédito, como a confiança do consumidor, a disponibilidade da oferta para novos empréstimos e a situação de emprego e renda.