Título: Para 75,5% das famílias, renda não cobre despesa
Autor: Farid, Jacqueline ; Gonçalves, Glauber
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/06/2010, Economia, p. B6

Pesquisa de Orçamento Familiar do IBGE mostra que o aperto no orçamento no fim do mês é maior para quem ganha até R$ 2.490,00

A maior parte das famílias brasileiras gasta mais do que ganha. Nada menos que 68,4% das famílias do País têm, em média, uma despesa mensal superior ao rendimento, segundo revela a Pesquisa de Orçamento Familiares 2008 e 2009 (POF). O aperto no orçamento é maior na parcela de renda até R$ 2.490,00 e piora à medida que a renda fica mais reduzida.

Como resultado desse estrangulamento orçamentário, 75,5% das famílias revelaram que têm dificuldade para esticar a renda até o fim do mês. Na camada mais baixa, de famílias com rendimento mensal de até R$ 830, as despesas médias, no ano passado, totalizavam R$ 744,98, enquanto o rendimento médio era de R$ 544,21.

O levantamento mostra, porém, uma evolução no equilíbrio orçamentário familiar, já que, na pesquisa anterior, de 2003, 85% das famílias estavam com gastos desequilibrados. A coordenadora de trabalho e rendimento do Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Márcia Quintslr, disse que, ainda que o desequilíbrio nas contas familiares ainda seja significativo, a redução do desequilibro em seis anos também é destaque.

É um período de aumento real do rendimento e da ocupação, então o maior equilíbrio no orçamento é resultado desses fatores", disse Márcia.

Tributos. A pesquisa mostra também que as famílias que vivem na área rural do País têm menos despesas com tributos do que as famílias urbanas, mas os gastos com tributos estão crescendo no campo nos últimos anos. Do total de despesas das famílias rurais, 5,4% eram direcionados para impostos e pagamentos de contribuições trabalhistas em 2009, enquanto na área urbana esse porcentual era de 11,3% (em 2003, era de 11,4%).

No entanto, com a formalização do trabalho no campo, as despesas com tributos das famílias rurais aumentaram em seis anos, já que somavam 4,4% do total de despesas em 2003. De qualquer modo, a pesquisa do IBGE mostra um forte aumento das despesas com tributos e contribuições, nas áreas urbana e rural, entre 1975 e 2009, passando respectivamente, no caso urbano, de 4,7% para 11,3% e, no rural, de 2,4% para 5,4%.

No que diz respeito aos gastos com pagamento de dívidas, totalizavam 2,0% das despesas familiares em 2003, passando para 2,1% em 2009, fatia inferior aos 3,6% de 1975.

A coordenadora de trabalho e rendimento do IBGE, Marcia Quintslr, disse que a composição das despesas na POF mostra "evidências" de aumento do rendimento das famílias nos últimos seis anos. "Não há valores, a pesquisa não traz isso, mas há evidências", disse.