Título: Telefónica vende fatia na PT para garantir mais votos em assembleia
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Fonte: O Estado de São Paulo, 24/06/2010, Negocios, p. B14
Empresa espanhola, que era a maior acionista da Portugal Telecom, poderia ser impedida de participar da assembleia que votará sua oferta de compra da fatia da PT na Vivo por conflito de interesse; novos acionistas devem votar a favor da proposta
A Telefónica vendeu uma fatia de 8% que detinha na Portugal Telecom, mantendo uma participação de apenas 2%. Com o negócio, a empresa espanhola tenta garantir votos para sua oferta de compra dos 50% que a Portugal Telecom detém na Vivo ? ainda não estava certo se a Telefónica poderia participar da assembleia que vai analisar a oferta, que chega a 6,5 bilhões.
De acordo com o analista Pedro Oliveira, do banco BPI, ainda que possam surgir algumas questões legais, o objetivo da Telefónica é conseguir que os votos na assembleia referentes aos 8% ? que poderiam ser proibidos por conflito de interesse ? sejam favoráveis à operação envolvendo a Vivo. "Se esses 8% votarem a favor da Telefónica, podem ser decisivos para as intenções da companhia espanhola", afirmou.
De acordo com a edição online do Jornal de Negócios, de Portugal, as ações da Telefónica foram vendidas para o fundo TPG Axon e ao banco UBS. Pelos valores de mercado, o negócio chega a 640 milhões.
Mas, mesmo com a venda das ações, ainda não ficou claro se os novos detentores das ações terão direito a voto na assembleia. "O presidente da assembleia geral da PT (António Menezes Cordeiro) vai ter de se pronunciar sobre se esta operação mantém ou não uma situação de conflito de interesses na votação relativa à oferta sobre a Vivo", disse à agência Lusa um analista que pediu para não ser identificado. "Menezes Cordeiro pode achar que se trata de uma votação indireta em nome da Telefónica", afirmou um outro analista.
Discussão. A assembleia que vai decidir sobre a oferta da Telefónica será realizada na semana que vem, na quarta-feira. O conselho de administração da Portugal Telecom já manifestou que a proposta não reflete o valor estratégico da Vivo. Os conselheiros do grupo português tinham rejeitado uma oferta anterior de 5,7 bilhões feita pela Telefónica pelo controle da Vivo, sem nem ao menos terem considerado levar o tema para uma assembleia de acionistas.
Nesta terça-feira, o presidente do conselho da Portugal Telecom, Henrique Granadeiro, em entrevista ao Económico TV, afirmou que "seguramente" havia um conflito de interesses caso a Telefónica votasse na assembleia como sócia da Portugal Telecom sobre a própria proposta de comprar a posição na Vivo.
Granadeiro lembrou que aceitar ou impedir a Telefónica de votar no encontro de acionistas da Portugal Telecom era uma decisão que competia exclusivamente ao presidente da mesa da assembleia, que ainda não tinha se manifestado sobre isso.
Alguns analistas vinham afirmando ser provável que a Telefónica fosse impedida de votar, o que poderia tornar imprescindível que a empresa espanhola tivesse de voltar a elevar o montante oferecido pela fatia na Vivo para ter mais chance de sucesso.
Dois acionistas da Portugal Telecom já manifestaram a intenção de votar contra a proposta da Telefónica: o Banco Espírito Santo de Investimento ? subsidiária do BES, que é o segundo maior acionista do grupo de telecomunicações português, com cerca de 8% do capital ? e a Ongoing, quinta maior acionista, com uma posição de 6,7%.
Sem dividendos. Esta semana, o presidente da assembleia geral da Portugal Telecom já havia freado uma das intenções da Telefónica. Ele decidiu que a assembleia não votará a proposta da empresa espanhola de que o grupo português distribua um dividendo extraordinário se a compra da fatia na Vivo for efetivada.
A Telefónica, para atrair os acionistas da Portugal Telecom a aceitarem sua proposta, havia solicitado ao presidente da mesa da assembleia que incluísse na agenda uma proposta prevendo que o grupo português distribuísse um dividendo especial de pelo menos 1 por ação, sujeito ao sucesso da operação envolvendo a Vivo.
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