Título: Sobram sondas com o acidente da BP
Autor: Pamplona, Nicola
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/06/2010, Economia, p. B7
Equipamentos parados por causa do vazamento de óleo podem ser realocados para outras áreas de exploração como Brasil e Costa Oeste da África
RIO
O óleo jorra há 61 dias do poço Macondo e o setor de petróleo começa a ver a reversão de um gargalo que prejudicava a exploração em águas profundas no mundo: a falta de sondas de perfuração de poços petrolíferos. Com a suspensão das operações no Golfo do México, 24 das 76 sondas contratadas na região estão paradas, segundo relatório divulgado na sexta-feira pela consultoria especializada ODS/Petrodata.
Segundo especialistas, tal cenário pode abrir novo fluxo de migração de embarcações para outras regiões fortes na exploração em águas profundas, como o Brasil e a Costa Oeste da África.
"Não faz sentido manter estas sondas inativas. Algumas companhias ainda tentarão manter os contratos, mas há muitas tentativas de cancelamento por parte das petroleiras", diz o consultor-chefe da ODS, Tom Kellock.
O movimento para cancelar contratos com sondas destinadas ao Golfo do México vem ganhando força nas últimas semanas. No dia 17, a companhia norueguesa Statoil anunciou planos para suspender, alegando força-maior, seus dois contratos de sondas na região - com a Transocean, que operava a Deepwater Horizon, que explodiu no acidente em Macondo, e outro com a Maersk Drilling.
"A moratória (suspensão das explorações em águas profundas) criou uma situação desafiadora para todas as partes envolvidas na perfuração de águas profundas do Golfo do México, com considerável exposição tanto a custos como a questões operacionais e legais", disse, na ocasião, um porta-voz da companhia. Antes da Statoil, as americanas Anadarko e Cobalt já haviam tomado decisão semelhante.
Conflito. As iniciativas criaram um conflito entre petroleiras e operadoras de sondas de perfuração, que não querem assumir o prejuízo e refutam o argumento de força-maior. A briga tem razão de ser: segundo relatório do site especializado Rigzone, a taxa média de aluguel de uma sonda de águas profundas no Golfo do México é de US$ 443,7 mil. Ou seja, as perdas com os 180 dias da moratória norte-americana chegam perto de US$ 80 milhões por sonda.
"Caso os cancelamentos sejam bem sucedidos, os proprietários de sondas não terão dúvidas em levar os equipamentos para outras áreas. E, na maior parte dos casos, as sondas são adequadas ao Brasil e à Costa Oeste da África", comenta Kellock.
A falta de sondas especializadas era para a Petrobrás um dos principais desafios para a exploração do pré-sal. Em 2007, a empresa iniciou extenso programa de contratação de sondas, que culmina com a concorrência para a construção de 28 unidades cujas propostas comerciais devem ser entregues esta semana.
No ano passado, a empresa chegou a deslocar para a Bacia de Santos uma embarcação que levaria aos EUA, com o objetivo de evitar a perda de prazos de exploração em concessões do pré-sal. Além disso, absorveu embarcações que estavam sob contrato com empresas estrangeiras com operações no Brasil, como Repsol e Exxon, enquanto essas empresas analisavam seus planos de perfuração.