Título: Lula dribla tucanos e 'rouba' Osmar Dias
Autor: Domingos, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/07/2010, Nacional, p. A8

Presidente aproveita rejeição do DEM a Álvaro Dias, mobiliza Lupi e convence senador pedetista a assumir candidatura ao governo do Paraná

BRASÍLIA

Coube ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva a articulação final que desmontou a tentativa de aliança entre o candidato tucano José Serra e o senador Osmar Dias, do PDT do Paraná, tornando-o candidato ao governo do Estado, numa coligação que envolve também o PT e o PMDB.

Lula aproveitou a ríspida reação do DEM à escolha de Álvaro Dias (PSDB) ? irmão de Osmar ? para o cargo de vice de Serra como forma de fortalecer os argumentos que acabariam por demover o pedetista de ficar ao lado dos tucanos. Por telefone, o presidente lembrou na terça-feira a Osmar que há um ano e meio a coligação com os petistas vinha sendo costurada. Por essa causa, Lula cancelou a viagem que faria a Pernambuco na terça, preferindo ficar em Brasília.

No início da tarde de anteontem, quando o presidente percebeu que a reação do DEM à escolha de Álvaro Dias era cada vez mais forte, despachou o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, para o Paraná. Lupi, também presidente do PDT (embora licenciado, é ele quem manda no partido), encontrou-se com Osmar por volta das 19 horas. Às 21 horas, Osmar anunciou que seria o candidato da aliança pró-Dilma Rousseff, a presidenciável do PT e de Lula.

Mesmo assim, Lupi não se desgrudou de Osmar. Continuou conversando com irmão de Álvaro Dias até 1 hora da madrugada. Para se prevenir, decidiu ficar em Curitiba ontem o dia todo. Contou a alguns ministros o que estava fazendo. Na conversa com Lula, disse que estava tudo certo. Mas que o presidente precisava "dar uma mãozinha", indo até o Paraná conversar com Osmar.

Lula concordou. Como está de viagem marcada para a África a partir de amanhã, com retorno no dia 12, disse que visitará o pedetista assim que voltar ao País. Osmar quer a garantia de Lula de que sua aliança não sofrerá ataques dos petistas mais radicais. E de que o presidente o ajudará, pedindo votos para ele ao mesmo tempo que para Dilma.

O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse que a decisão tomada por Osmar acabou por consolidar de vez a aliança PDT/PMDB/PT no Paraná. Os candidatos ao Senado nessa coligação serão o ex-governador Roberto Requião, do PMDB, e a petista Gleise Hoffmann.

"Há um ano e meio nós costuramos essa aliança. Isso torna muito forte a chapa do senador Osmar Dias. Para tanto, contamos com a compreensão do governador Orlando Pessuti (PMDB), que abriu mão de sua candidatura para apoiar Osmar Dias", disse Padilha. Nas conversas com os governistas, Osmar Dias teria contado que seu irmão Álvaro ? com o qual tem um acordo de não se bater em disputas no Estado ? o avisou de que estava sendo "rifado" nas conversas entre Serra e a cúpula do DEM. Por volta das 20h40, Álvaro Dias teria informado o irmão que não seria mais candidato a vice de Serra, liberando-o para disputar a eleição, agora ao lado da petista Dilma Rousseff.