Título: Funcionários da USP encerram greve após 57 dias
Autor: Lordelo, Carlos; Saldaña, Paulo
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/07/2010, Vida, p. A20

Desgastados, eles aceitaram proposta da reitoria, que vai pagar o período não trabalhado e prometeu estudar reajuste de 5%

O Estado de S.Paulo Decisão. Servidores aprovam fim da paralisação; na capital, eles voltam ao trabalho hoje

Funcionários da Universidade de São Paulo (USP) decidiram ontem encerrar a greve que já durava 57 dias. Eles aceitaram a proposta de acordo apresentada pela reitoria, que prevê o pagamento dos salários descontados pelos dias não trabalhados e novas reuniões para negociar aumento de 5% e melhoria de benefícios.

A reitoria também se comprometeu a não punir os trabalhadores que se envolveram nas atividades da paralisação. Em troca, os grevistas prometeram repor o trabalho acumulado. O acordo de ontem foi discutido durante mais de quatro horas por um conselho de greve nomeado pelo reitor, João Grandino Rodas, e representantes dos grevistas. Enquanto ocorria a reunião, na sede do Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas (Cruesp), na região central de São Paulo, cerca de 300 pessoas, entre funcionários e estudantes, aguardavam na reitoria da USP, ocupada desde o dia 8.

A diretora do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp) Neli Wada considerou o acordo uma "vitória" para o movimento, apesar de a direção da universidade não ter atendido à principal reivindicação dos grevistas - a manutenção da isonomia entre docentes e servidores.

Uma parcela dos funcionários paralisou as atividades no início de maio porque o Cruesp concedeu aumento de 6,57% aos servidores da USP, Unesp e Unicamp, mas de 12,57% aos docentes.

Quando a reitoria cortou o salário, no início de junho, o movimento radicalizou. Funcionários bloquearam prédios, invadiram a reitoria, fecharam o portão da Cidade Universitária e impediram os pais de deixarem seus filhos na creche central da USP. Caso um acordo não fosse fechado ontem, os grevistas prometiam parar o Centro de Computação Eletrônica. Para evitar a nova invasão, viaturas da Polícia Militar estavam no local desde segunda-feira.

Ao comentar o fim da greve, o governador Alberto Goldman chamou de "absurdas" as ações dos grevistas, mas acabou fazendo uma comparação infeliz do movimento com o de civis chineses massacrados pelo Exército em 1989 na Praça da Paz Celestial, em Pequim.

Desgaste. Com a má repercussão e a falta de apoio de outros setores, os trabalhadores votaram pelo retorno às atividades para evitar um desgaste ainda maior. "Chegamos ao nosso limite. A greve perderia seu poder de barganha na próxima semana, porque começa o período de férias e não poderíamos mais paralisar as atividades", disse Magno de Carvalho, diretor do Sintusp. Os grevistas agora temem ser processados por terem quebrado portas, vidraças e parte de uma parede da reitoria.

Para uma funcionária da reitoria da instituição que preferiu não se identificar, a greve sofreu um "desgaste natural" por causa da duração do movimento. "Acabar a paralisação foi uma atitude prudente", disse ela, que continuou trabalhando em outras unidades para manter "atividades essenciais".

"Não havia mais condições para continuar a greve", afirmou a bibliotecária Marina Macambyra. "Seria muito difícil, principalmente para os cerca de mil funcionários que tiveram salários descontados."

Ainda assim, alguns funcionários comemoravam. "Derrotamos a intransigência do reitor, que não queria pagar os dias descontados", disse Celina Mamontel. / COLABOROU RENATO MACHADO