Título: Fé na política monetária é a base da tranquilidade do BC
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Fonte: O Estado de São Paulo, 01/07/2010, Economia, p. B2

As autoridades monetárias, no Relatório de Inflação do segundo trimestre, divulgado ontem, revisaram a projeção do PIB, de 5,8% para 7,3%, em razão dos resultados do primeiro trimestre, mas as perspectivas para a inflação não foram corrigidas na mesma proporção. Estima o Banco Central (BC) que o IPCA deverá elevar-se de 5,2%, da última previsão, para 5,4%, neste ano; e de 4,9% para 5%, no próximo ano.

A estimativa se baseia na análise da conjuntura econômica dos últimos meses. O BC continua pensando que o motor da economia será o consumo das famílias, apoiado por crédito generoso, e leva em conta a queda do desemprego, a melhora dos rendimentos e o crescimento das importações, maior do que das exportações. Acha, também, que a indústria não terá condição de acompanhar o crescimento da demanda doméstica, mas reconhece que o aumento dos investimentos pode evitar uma pressão excessiva da demanda sobre os preços.

Como sempre, as autoridades monetárias são bastante discretas sobre os efeitos dos gastos públicos na economia, colocando, como premissa das suas projeções de inflação, que a meta do superávit primário de 3,3% do PIB será atingida sem dificuldades, uma vez que os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) poderão ser deduzidos dos gastos. Aliás, o relatório destaca o forte crescimento dos investimentos nos últimos meses, sem levar em conta, porém, a sua concentração na Petrobrás.

No entanto, as autoridades monetárias constatam o aumento da pressão inflacionária nos núcleos dos índices de preços. Lamentam essa acomodação com a inflação, que apresenta ainda um forte resíduo de indexação, sem insistir em analisar a expansão desse flagelo com as medidas aprovadas pelo Congresso neste período eleitoral.

O relatório mostra sua preocupação com o segmento da prestação de serviços, que se aproveita da situação para elevar seus preços. Mas, se parece não se preocupar com a possibilidade de a taxa cambial se tornar um fator inflacionário - o que indicaria que o BC não pretende intervir mais do que já está intervindo no mercado cambial -, leva, entretanto, em consideração alguns fatos que podem aumentar a pressão inflacionária, como o aumento do preço das commodities, a transferência da alta dos preços no atacado aos consumidores e o agravamento da crise europeia.

A tranquilidade exibida pelo BC, ao que tudo indica, fundamenta-se na fé que tem na sua política monetária, que não pretende amenizar.