Título: Controle da inflação exige dose menor de juros
Autor: Fernando Nakagawa e Fabio Graner
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/07/2010, Economia, p. B4

A política de juros ficou mais poderosa e eficiente nos últimos anos, refletindo algumas mudanças no perfil da economia brasileira. A avaliação consta de um capítulo especial do Relatório Trimestral de Inflação divulgado ontem pelo Banco Central (BC), órgão responsável pela condução da política monetária no Brasil.

O diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo, afirmou que o maior poderio significa que, para reduzir a taxa de inflação, o Comitê de Política Monetária (Copom) precisa atualmente pesar menos a mão na taxa de juros do que em 2006 e em 2008. Mas ele não quis se comprometer com movimentos futuros da Selic.

"A mensagem que queremos passar é de que há uma tendência de alta do poder da política monetária", afirmou. Questionado sobre as interpretações de que o estudo sinalizava uma postura mais gradualista na definição dos juros, Carlos Hamilton se limitou a reiterar que o objetivo era só mostrar a tendência dos últimos anos.

Crédito. De acordo com o BC, um dos fatores que amplificou a potência da política de juros foi o aumento da quantidade de crédito na economia. Para se ter uma ideia, entre janeiro de 2006 e março de 2010, o estoque de crédito com recursos livres - que os bancos podem aplicar em qualquer segmento e cujo custo de captação é referenciado na taxa Selic - passou de 18,8% do Produto Interno Bruto (PIB) para 30,2% do PIB.

Com maior volume de financiamentos, é natural que os juros ganhem um peso maior na atividade econômica. Ao elevar a Selic, o BC encarece o consumo e os investimentos, adia ou cancela essas decisões e, assim, diminui o ritmo de crescimento e segura a inflação. E quando baixa a Selic, o processo se inverte.

O aumento no prazo da dívida, que também ocorreu nos últimos anos, é outro fator que reforça o efeito riqueza negativo ou positivo da política monetária, amplificando sua potência.

Além desses três fatores, Hamilton também disse que a maior eficiência da política monetária reflete algo que não se pode mensurar: o ganho de credibilidade do BC nos últimos anos.