Título: BC eleva previsão de crescimento para 7,3% em 2010
Autor: Fernando Nakagawa e Fabio Graner
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/07/2010, Economia, p. B4

Expectativa anterior era de expansão de 5,8% para o PIB; revisão reforça alerta para o risco de aumento descontrolado da inflação

A estimativa de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) passou de 5,8% previstos em março para 7,3%, na maior revisão já feita pelo Banco Central de um trimestre para o outro. Se confirmado, será o mais forte desempenho anual desde 1986. A aposta da autoridade monetária é maior que a previsão do mercado, que espera avanço de 7,13%.

Esse desempenho reforçou o alerta do BC para o risco de aumento descontrolado da inflação. A estimativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2010 aumentou de 5,2% para 5,4%. Para 2011, passou de 4,9% para 5%. Nos dois casos, que consideram os juros e câmbio constantes (chamado de cenário de referência), o IPCA está acima do centro da meta de inflação, que é de 4,5%.

As novas estimativas consolidam apostas de que a Selic deve subir novamente 0,75 ponto porcentual este mês para conter a remarcação de preços. No cenário de mercado, o quadro para inflação é melhor. Para 2010, o IPCA previsto ficou em 5,3% e, para 2011, em 4,6%.

No Relatório Trimestral de Inflação divulgado ontem, o BC avalia que o crescimento da economia continua respaldado pela demanda interna e o movimento deve continuar aquecido com a evolução favorável do emprego e da renda, crédito e confiança de empresários, entre outros.

O diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo, destacou como exemplo o mercado de trabalho: o banco projeta taxa média de desemprego em torno de 7% neste ano, a menor da história.

Nem mesmo a acomodação mais forte de alguns indicadores de atividade percebida em abril ameniza a avaliação. Para a diretoria do órgão, o desempenho recente ainda "não constitui indicativo de alteração na tendência de crescimento", embora Hamilton reconheça que nos próximos trimestres o PIB deverá desacelerar, expandindo-se a um ritmo médio de 0,8%.

No lado externo, o documento do BC vê impactos menores, mas se mantém alerta para os desdobramentos da crise na Europa, pois uma piora pode ter impactos diretos sobre a economia brasileira. Outro foco de atenção no exterior é sobre a trajetória de preços das commodities, que o Brasil exporta bastante.

Descompasso. O forte crescimento econômico é boa notícia, mas também fonte de preocupação para o BC. A economia não tem tido capacidade de produzir bens e serviços conforme a demanda, levando à alta de preços.

Para evitar que o quadro pressione a inflação, Hamilton defendeu aumento dos investimentos para que a economia avance de forma sustentável. "Não dá para aspirar taxas de crescimento elevadas sem que haja um investimento maior."