Título: Estatal diz que não tem plano B para capitalização
Autor: Valle, Sabrina
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/06/2010, Economia, p. B4

Petrobrás garante que a operação seguirá a proposta inicial e desmente afirmação do ministro Mantega

A Petrobrás divulgou ontem nota oficial negando a possibilidade de um plano B para capitalização, como havia anunciado no início da semana o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Segundo a estatal, a capitalização seguirá mesmo a proposta inicial, que prevê a cessão onerosa de barris do pré-sal, para garantir recursos para a compra de novas ações pela União.

O extenso comunicado foi elaborado como resposta à consulta da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), baseada em reportagem publicada pelo Estado na quarta-feira. A possibilidade de que um contrato de partilha substituísse a cessão onerosa, diante da demora na certificação dos barris do pré-sal pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), foi levantada por Mantega.

A ideia desagradou a analistas do mercado financeiro, por criar riscos adicionais à capitalização, que já vem provocando grandes estragos no preço das ações da Petrobrás. "O plano B ideal seria uma capitalização menor, caso a cessão onerosa não seja possível", disse ontem um analista de banco brasileiro, que pediu para não ser identificado.

"A Petrobrás reitera que não está trabalhando com nenhum plano alternativo para a capitalização ou para a cessão onerosa", afirmou a empresa no comunicado. Segundo o texto, o ministro Mantega referia-se a alternativas para "tornar economicamente produtivas áreas ainda não concedidas na região do pré-sal", em caso de inviabilidade na realização da cessão onerosa.

"A Petrobrás reafirma suas declarações anteriores, inclusive através do presidente de seu conselho de administração, ministro Guido Mantega, no sentido de que não existe "plano B" para a capitalização", reforçou a companhia. O texto reitera a intenção de realizar a capitalização, que foi adiada para setembro.

O documento não foi suficiente para acalmar o mercado. Um analista ouvido pelo Estado disse que as ações da companhia ainda vão sofrer até que o processo seja concluído. Ontem, em dia de poucos negócios na Bolsa de Valores de São Paulo, os papéis preferenciais tiveram pequena alta, de 1,53%, acompanhando as cotações internacionais do petróleo. Foi a primeira alta depois de seis quedas seguidas.

Operações distintas. A Petrobrás aproveitou para reforçar o conceito de que capitalização e cessão onerosa são operações distintas, que poderiam ser feitas em separado - apesar de, na prática, dependerem uma da outra. A companhia ressalvou que decidiu adiar a capitalização até que a ANP certifique as reservas que serão usadas na cessão para garantir mais informações aos acionistas na decisão sobre a compra de novas ações.

A ANP informou que assinou ontem um contrato com a Gaffney, Cline & Associates (GCA), para certificar as reservas. O trabalho, porém, só deve terminar em agosto. O governo trabalha com a possibilidade de ceder à Petrobrás o poço Franco, descoberto recentemente pela ANP, com 4,5 bilhões de barris, mais o direito sobre reservas na Bacia de Santos.