Título: Lula pedirá esforço pela retomada ao G-20
Autor: Monteiro, Tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/06/2010, Economia, p. B3

Para o presidente, crescimento da economia mundial é o remédio para desequilíbrio fiscal

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva segue hoje para Toronto, no Canadá, onde participará da reunião do G-20. No encontro deste fim de semana, o presidente vai cobrar dos governantes compromissos com a retomada do crescimento da economia mundial.

Lula também vai pedir a reforma de poder de voto no Fundo Monetário Internacional (FMI), o reforço das regras internacionais da regulação e supervisão do sistema financeiro e a conclusão da Rodada Doha de negociações comerciais na Organização Mundial do Comércio (OMC).

O porta-voz Marcelo Baumbach disse em entrevista que, "no entendimento de Lula, a retomada do crescimento da economia mundial é o melhor remédio para o desequilíbrio de contas públicas que está no cerne do atual momento de crise".

Nesse particular, prosseguiu Baumbach, "o presidente levará à reunião o exemplo do Brasil que, ao manter altos índices de crescimento econômico, colocou a dívida pública em trajetória sustentável sem a necessidade de ajuste dramático de gastos". Durante o encontro, o Brasil vai propor que a União Europeia não corte os gastos drasticamente nem faca aperto fiscal rápido demais.

Dogmas obsoletos. Na quarta-feira, durante almoço com o presidente de Angola, Lula disse que "é preciso que o Banco Mundial e o FMI abandonem de uma vez por todas seus dogmas obsoletos e condicionalidades absurdas". Acrescentou que o maior desequilíbrio do mundo é o que separa ricos e pobres e que o desenvolvimento da África, da Ásia e da América Latina contribuirá diretamente para a promoção do crescimento global e para a diminuição deste nefasto desequilíbrio".

O porta-voz do Planalto comentou ainda que é bastante significativo que, pela primeira vez, o tema comércio internacional seja objeto de uma sessão de debates. "Nesse particular, o presidente Lula defenderá a necessidade de que os líderes mundiais demonstrem vontade política de intervir diretamente para levar à conclusão a Rodada Doha com o pacote que está sobre a mesa desde 2008."

Segundo Baumbach, Lula acha que é preciso haver "vontade política" dos líderes para que se feche acordos como os da Rodada Doha e possa haver avanços nos compromissos acertados pelo G-20. Ele lembra que as decisões técnicas já foram tomadas e o momento é de partir para decisões políticas.

Alinhados. A Cúpula do G-20 começa amanhã com uma clara divisão entre Europa e Estados Unidos ? e o Brasil, pela primeira vez em muito tempo, está mais alinhado com os americanos. O Brasil, assim como os EUA, acha que é preciso tomar cuidado com as medidas de austeridade fiscal, porque um aperto prematuro e exagerado pode abortar a recuperação econômica mundial. "Estamos preocupados, é preciso ter cuidado para a contração fiscal não matar a recuperação", disse ao Estado um integrante do governo brasileiro próximo às negociações.

Já a Europa está empenhada em reduzir seus déficits do orçamento, depois do susto com as dívidas da Grécia, Portugal e Espanha. Muitos países resolveram adotar medidas unilaterais, vistas com irritação pelos EUA, que temem efeitos na economia global. A Grã-Bretanha anunciou cortes de até 25% em seu orçamento. A ministra das Finanças francesa, Christine Lagarde, disse que o país vai adotar medidas de austeridade se o crescimento não tiver se recuperado até julho. E a Alemanha promete apertar o cinto.

Lula embarca para Toronto na tarde de hoje e amanhã pela manhã deverá ter reuniões com outros líderes. Não houve nenhum contato para que Lula se reúna com o presidente dos EUA, Barack Obama. Esse será o primeiro encontro dos dois depois da decisão do Conselho de Segurança da ONU de punir o Irã, medida que o Brasil e a Turquia trabalharam para evitar. / COLABOROU PATRÍCIA CAMPOS MELLO