Título: PT põe em dúvida venda de ações feita pela Telefónica
Autor: Cruz, Renato
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/06/2010, Negocios, p. B12

Companhia portuguesa diz que operação é apenas um "swap", e que ações podem voltar para os espanhóis

A Portugal Telecom afirmou ontem que a venda de participação de 8% na empresa pela Telefónica "não é uma venda efetiva", porque foi feita via operação de troca reversível de ativos. "Isso não se caracteriza como uma venda efetiva. Acredito que é mais um esquema financeiro através de "equity swap"", afirmou o presidente executivo da Portugal Telecom, Zeinal Bava. Esse tipo de operação envolve acordos reversíveis nos quais ações são mantidas por instituições financeiras mediante pagamento de uma comissão.

Uma porta-voz da Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), órgão que regula os mercados de Portugal, afirmou que a autoridade está "analisando com urgência" os acordos para saber se a operação permite que os direitos de voto da Telefónica sejam transferidos para os compradores na assembleia de acionistas da Portugal Telecom marcada para 30 de junho.

Nesta data, os acionistas da Portugal Telecom decidirão se aceitam a oferta de 6,5 bilhões (US$ 8,7 bilhões) feita pela Telefónica para comprar a participação detida pela sócia portuguesa na operadora celular Vivo.

Analistas consideraram a venda como uma maneira de a Telefónica transferir seus direitos de voto para aliados confiáveis, de modo a conseguir apoio suficiente para sua oferta. A empresa espanhola provavelmente não teria autorização para votar na reunião por questão de conflito de interesses.

A Telefónica anunciou na quarta-feira a venda de 8% de participação na Portugal Telecom, mantendo 2% de presença na companhia. A empresa espanhola informou que a operação foi feita por meio de três acordos separados de troca de ativos.

Ontem, a operadora espanhola disse que não existe nenhum acordo para a recompra de ações da Portugal Telecom depois da venda anunciada na véspera. "A Telefónica não tem nenhuma opção de recompra de ações da Portugal Telecom", disse um porta-voz da empresa.

Rejeição. A oferta da Telefónica pela fatia da PT na Vivo vem sendo bombardeada pelos executivos da companhia portuguesa. Na semana passada, em evento do Banco Santander, Zeinal Bava disse que, se os acionistas rejeitarem a oferta atual, terão ganhos maiores no futuro, pelo potencial de crescimento da Vivo e do mercado brasileiro.

"Os acionistas da PT têm duas opções: abdicar da opção (Brasil) e cristalizar o valor do investimento da PT no Brasil agora ou dar poder à PT para continuar a criar valor para os acionistas ao alavancar a exposição da Vivo e do Brasil no futuro", afirmou.

José Maria Ricciardi, presidente do Banco Espírito Santo, um dos maiores acionistas da PT, também já afirmou que a proposta da Telefónica "não é suficiente". Em entrevista ao jornal Diário Económico, Ricciardi usou como exemplo a proposta da CSN pela cimenteira Cimpor para mostrar como a oferta da Telefónica é baixa. Segundo ele, a CSN ofereceu dez vezes o Ebitda (sigla em inglês de lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) pela Cimpor. "Os cimentos têm um potencial importante, mas não um peso exatamente igual ao das telecomunicações." O executivo destacou que a oferta da Telefónica corresponde a nove vezes o Ebitda da Vivo. / AGÊNCIAS INTERNACIONAIS