Título: Aonde vai o resseguro?
Autor: Mendonça, Antonio Penteado
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/06/2010, Economia, p. B8

Nos primeiros dois anos da abertura, mercado brasileiro ficou nas mãos do IRB . De janeiro de 2010 para cá, a situação vem se alterando

Desde janeiro de 2010, aumentou a competitividade entre as resseguradoras autorizadas a operar no Brasil. A razão foi a redução do porcentual de cessão de negócios para as resseguradoras locais.

Pela lei que quebrou o monopólio do resseguro, esta atividade pode ser atendida por três tipos de empresas: resseguradoras locais, admitidas e eventuais.

Não cabe aqui analisar as diferenças de cada uma. Para proteger o Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) e dar uma vantagem competitiva para quem se instalasse como ressegurador local, a lei previu que, do total de resseguros gerados no país, 60% deveriam ser obrigatoriamente cedidos para este tipo de companhia, o que fazia todo o sentido, na medida em que elas são obrigadas a se instalar com capital mínimo e uma série de obrigações das quais as resseguradoras admitidas e as resseguradoras eventuais estão parcial ou totalmente liberadas.

Todavia, 60% do total dos resseguros é um porcentual muito elevado, daí a própria lei o reduzir, passado um determinado tempo, para 40%. Este porcentual passou a valer a partir de janeiro passado. O resultado é que o setor está mudando de cara.

Durante os primeiros dois anos da abertura, um pouco por causa da crise internacional, um pouco por estratégia dos grandes grupos resseguradores, o mercado brasileiro ficou nas mãos do IRB Brasil Resseguros, o antigo titular do monopólio.

Como há mais de 70 anos as seguradoras que operam no Brasil estavam habituadas a contratar apenas com ele, e as resseguradoras que se instalaram no país como companhias locais não entraram com o pé no acelerador, o IRB continuou abocanhando o grosso dos resseguros.

Aos poucos, ainda de forma tímida nestes dois primeiros anos, as resseguradoras recém abertas começaram a operar, sendo que apenas uma efetivamente saiu para o mercado, oferecendo sua capacidade e expertise. De janeiro de 2010 para cá, a situação vem se alterando.

Com a redução da cessão obrigatória para 40% do total dos resseguros, várias resseguradoras locais admitidas e eventuais se tornaram mais agressivas e estão roubando uma grande fatia que era do IRB.

Mais ágeis, focadas na necessidade de encantar os clientes, com estruturas muito mais compactas e sistemas mais eficientes, invariavelmente ligadas direta ou indiretamente a grandes grupos seguradores instalados no Brasil, estas empresas, com a possibilidade de reterem 60% dos prêmios, passaram a ser competitivas, o que, somado ao fim da crise no setor, deu-lhes ânimo para entrarem imediatamente no mercado brasileiro, visando principalmente os negócios que serão gerados pelas mais diversas obras e investimentos já programados para os próximos anos.

No ritmo que vai, a participação do IRB deve continuar diminuindo. É verdade que vem sendo comentada a transferência das ações que o Governo Federal detém no ressegurador para o Banco do Brasil. Mas um processo desta natureza não é simples, inclusive porque o IRB tem outros acionistas, dos quais os maiores são justamente os dois maiores bancos privados nacionais, e não está claro como seria uma parceria entre eles e o Banco do Brasil.

Sem um rápido e drástico choque de gestão o IRB, a médio prazo, não tem condições competitivas para enfrentar os resseguradores internacionais.

Com uma estrutura administrativa muito mais pesada que a de seus concorrentes, seus custos fixos são muito altos para uma atividade que, dependendo da época, opera com margens muito baixas.

Além disso, é fundamental o seu reposicionamento dentro do mercado.

Por mais competente que o IRB possa ser, no cenário global ele nunca será mais do que um player de porte médio, com foco na América Latina.

Esperar que ele possa ser mais do que isso é arriscar comprometer o futuro de uma organização que há mais de 70 anos presta bons serviços e que conhece o mercado brasileiro como ninguém.