Título: PSDB trava queda de braço com DEM por vice de Serra
Autor: Lopes, Eugênia
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/06/2010, Nacional, p. A6

Tucanos põem "bombeiros" em campo, mas presidente do partido aliado ganha apoio na ofensiva pelo direito de indicar o nome

Mesmo diante das ameaças do DEM de retirar seu apoio formal à candidatura do presidenciável tucano José Serra; o comando nacional da campanha do PSDB permanecia ontem irredutível na indicação do nome do senador Álvaro Dias (PR) como candidato a vice na chapa do PSDB.

Coordenador da campanha tucuna e presidente do PSDB, o senador Sérgio Guerra (PE) passou parte do dia de ontem em negociações com o DEM. A convenção dos democratas está marcada para quarta-feira, quando o partido deverá formalizar o apoio a Serra e, com isso, dar mais três minutos de TV para o tucano ao longo dos 45 dias do programa eleitoral gratuito.

Os tucanos tentarão convencer o DEM a aceitar o nome de Dias e, dessa forma, pôr um ponto final na crise deflagrada entre as duas legendas. "Não é a primeira vez que essas diferenças acontecem. Sugerimos o nome de Álvaro Dias. Ponto. O DEM tem a posição dele", afirmou ontem Guerra, que deverá se reunir hoje ou amanhã com os partidos que integram a campanha de Serra.

"O DEM insiste que a vice tem de ser do partido. Vamos deixar o processo andar", disse o deputado Jutahy Magalhães (PSDB-BA).

Mas, apesar da entrada em campo de ¿bombeiros¿ de ambos os lados, o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), teimava ontem na indicação de um nome do partido para ocupar o cargo de vice na chapa de Serra. Um dos argumentos foi o de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva "sacrificou" vários aliados nos Estados em prol da candidatura da petista Dilma Rousseff à Presidência. E citou os casos dos ex-prefeitos Fernando Pimentel (PT-MG) e Lindberg Farias (PT-RJ), que tiveram que abrir mão de suas candidaturas ao governo estadual para o PMDB.

"Mas PSDB não quer sacrificar ninguém", observou Maia. Seu pai, o ex-prefeito Cesar Maia, foi na mesma linha. "Nenhum presidente da República eleito depois de 1945 tinha chapa de um só partido. Será agora? O PT sacrifica seus interesses regionais a favor da candidatura nacional. O PSDB faz exatamente o contrário", escreveu Cesar Maia em seu Twitter. Ele concluiu a mensagem com ironia: "Foi lançado ontem em São Paulo o livro Estratégias de como Perder uma Eleição. Editora Labirinto."

Vazamento. Rodrigo Maia ficou particularmente irritado com o anúncio do nome de Dias para o cargo pelo Twitter do presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), durante o intervalo do jogo de anteontem da seleção brasileira. O vazamento da escolha por um aliado, sem o prévio conhecimento do DEM, foi considerado no partido uma trapalhada muito grande dos tucanos. Ainda mais porque Maia havia enviado um e-mail ao presidente do PSDB perguntando sobre a vaga de vice-presidente e não obteve nenhuma resposta. Com a confusão, Maia acabou ganhando a adesão de todo o partido na defesa da tese de que o DEM tem de ocupar o posto de vice na chapa de Serra.

"Rodrigo Maia tem o apoio de 100% da bancada federal. O DEM fala unido pela voz de seu presidente", escreveu ontem em seu Twitter o líder do DEM na Câmara, Paulo Bornhausen (SC). "Seria muita falta de respeito o PSDB ter a petulância de não indicar o vice do DEM. Isso é uma afronta ao seu maior apoio", emendou o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) também no Twitter. "Se o PSDB não zerar o jogo, tem grandes chances de perder o nosso apoio dia 30, na convenção nacional", ameaçou ontem Caiado.

"Tenho conversado com lideranças do DEM. Cresce o sentimento para decidirmos pelo fim da aliança com o PSDB na convenção", disse o deputado Efraim Filho (DEM-PB).

"É só uma questão de conversa", insiste Álvaro Dias

O senador tucano Álvaro Dias (PR) voltou a afirmar ontem, em Cuiabá, que continua candidato a vice na chapa de José Serra (PSDB). Com relação a rejeição do DEM, ele declarou que a situação "vai se arrumar". "É só uma questão de conversa", afirmou. O senador Jaime Campos (DEM-MT) tem a mesma opinião. Na visão dele, a indicação de Dias não será empecilho para a aliança entre o PSDB e o DEM na corrida presidencial. Dias esteve em Cuiabá para o lançamento da candidatura de Wilson Santos ao governo do Mato Grosso.

Fátima Lessa.

Especial para o Estado