Título: Brasil precisa criar massa crítica de pesquisa
Autor: Gonçalves, Alexandre
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/06/2010, Vida, p. A23

Se o País quer se tornar protagonista no campo da genômica, deve aumentar o número de pesquisadores que atuam na área. Essa é a opinião do biólogo Fernando Reinach, colunista do Estado e um dos coordenadores do projeto que decifrou o genoma da bactéria Xylella fastidiosa e introduziu brasileiros nas técnicas de sequenciamento.

Aparentemente, as farmacêuticas investem pouco em pesquisas com o genoma. Por quê?

As grandes indústrias preferem apostar em propostas de terapias que estão em um estágio mais avançado de desenvolvimento. Atualmente, elas enfrentam um problema: possuem poucos remédios prontos para serem lançados no mercado. Os estudos com o genoma ainda estão na fase de pesquisa básica. Se elas apostam em um projeto que vai levar 10 ou 20 anos para virar um produto, o que vão vender até lá?

Como você avalia a participação do Brasil nos esforços para interpretar o genoma humano?

Há pesquisadores trabalhando nessa área. Mas são poucos. Precisaria haver muito mais para aumentar as chances de as pesquisas se transformarem em terapias. Funciona como um funil. Nos Estados Unidos, há centenas de cientistas nas universidades realizando pesquisa básica. Eventualmente, algumas dezenas descobrem coisas interessantes e criam pequenas empresas de biotecnologia para viabilizar novas terapias. Quem descobre uma alternativa promissora vende a tecnologia (por um ótimo preço) para uma multinacional farmacêutica que produzirá o medicamento. No Brasil, há pouca gente na universidade fazendo pesquisa básica. Logo, quase ninguém deixa a academia para desenvolver uma boa ideia. Por fim, a maior parte da indústria farmacêutica nacional possui pouco capital para realizar os testes clínicos e lançar um novo produto no mercado.

Além da medicina personalizada, quais frutos podemos esperar dos estudos com o genoma?

Somos o resultado de uma interação entre nosso patrimônio genético e nossas circunstâncias pessoais. O genoma vai desvendar uma das parcelas dessa equação, revelando algo sobre o nosso futuro. Além disso, a medicina tradicional também vai tirar proveito das pesquisas com o genoma.

Quais as implicações éticas?

Informações sobre o genoma poderão revelar que uma pessoa tem predisposição para determinadas doenças, com graves consequências pessoais e sociais, como o impacto em cláusulas de seguros de saúde ou em decisões trabalhistas. Contudo, os dilemas éticos poderão ser resolvidos com uma regulamentação sensata.