Título: Importação em alta será natural daqui em diante
Autor: Raquel Landim,
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/06/2010, Economia, p. B1

Com a recuperação da economia, voltou a discussão sobre o crescimento das importações. Assim como em 2008, dessa vez os dados de nossas compras externas mostram uma expansão de praticamente todos os itens da pauta de importação. Ainda há disparidade entre os segmentos quando comparamos com o imediato pré-crise. De fato, os dados dessazonalizados do quantum de importação de bens de capital ainda mostram queda de 13% comparados com o pico atingido em agosto de 2008. Em compensação, o quantum de importação de bens de consumo duráveis cresceu 8,4% em relação ao pico alcançado em julho de 2008.

Esse comportamento não é igualmente seguido pela produção industrial, em que se nota uma queda concomitante de 4,7% na produção industrial de bens de consumo duráveis. No caso de bens de capital, tanto a produção quanto a importação estão em recuperação.

Precisamos tanto de produção doméstica quanto de importação desses produtos. No caso dos bens de consumo de duráveis, há um crescimento mais forte da importação do que da produção. Mas, antes que as velhas teses de substituição de importação ou o apelo ao câmbio desvalorizado comecem a aparecer, vale uma análise mais detalhada do padrão de crescimento que estamos entrando agora.

Primeiro, os riscos de crescimento exagerado de importação não devem vir dos bens de consumo. Em janeiro de 2008, 10,8% da importação acumulada em 12 meses era de bens de consumo, enquanto nos 12 meses até abril deste ano essa proporção passou para 13,8%, muito pouco ainda para se tornar um problema. A maior parte das importações continua sendo bens de capital e insumos, com 71,8% do total importado, mas não foi em cima dessa conta que o consumo ganhou espaço, mas sim da importação de combustíveis.

Segundo, em que pese termos ainda uma pauta de importação muito concentrada em bens que tornam nossa indústria mais eficiente, é verdade também que o padrão de crescimento da economia brasileira nos próximos anos demandará um crescimento das importações. Estamos entrando num padrão de crescimento diferente do observado entre 2003 e 2008, quando o mundo crescia num ritmo mais forte que o Brasil e as exportações conseguiam crescer mais que as importações. Agora, o padrão deverá ser de o Brasil crescer em ritmo mais veloz que o mundo. Será natural vermos uma expansão forte das importações por causa disso. Mas isso tudo significa dizer que a importação em geral deverá ser um complemento da produção, como, aliás, temos visto em bens de capital e produtos intermediários.

Terceiro, apelar ao câmbio para ajudar indústrias que devem perder espaço não é solução, apenas paliativo. E nem se deveria esperar das mudanças cambiais chinesas algo muito positivo para as importações, já que não se deve trabalhar com um cenário de valorização da moeda chinesa acima de 5%. Ajudaria muito mais para esses setores e toda a economia melhorias de competitividade em custos logísticos e tributários menores.

Enfim, importações em alta serão algo natural para a economia brasileira nos próximos anos e o risco que se corre é tentar minimizar isso achando que apenas um câmbio depreciado resolveria.

ECONOMISTA-CHEFE DA MB ASSOCIADOS