Título: Divergências barram avanço no G-20
Autor: Mello, Patrícia Campos ; Xavier, Luciana
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/06/2010, Economia, p. B13

Encontro de economias desenvolvidas e emergentes termina sem ganhos em relação a coordenação

A cúpula do G-20 (grupo de economias desenvolvidas e emergentes) termina hoje com baixa expectativa de avanços concretos, por causa das divergências entre os países. "O resultado será limitado por causa das grandes divergências de políticas entre os Estados, principalmente em relação a coordenação de estímulos, redução de déficit e resolução de desequilíbrios¿, disse o analista Dan Alamariu, do Eurasia Group. "Apenas em questões técnicas, como a reforma regulatória, ou não polêmicas, como reforma do FMI, o G-20 conseguirá algum tipo de compromisso".

O presidente americano, Barack Obama, chegou a Toronto ontem decidido a dar novo ímpeto às reformas regulatórias globais. Em discurso divulgado nos EUA no sábado de manhã, Obama pediu que o Congresso americano aprove sua proposta de uma taxa sobre bancos que irá arrecadar US$90 bilhões em 10 anos.

A taxa será usada pata ressarcir o contribuinte americano dos custos do resgate das instituições financeiras durante a crise global. Uma taxa semelhante está sendo debatida pelo G-20. Na sexta-feira, o Congresso americano chegou a um consenso sobre a reforma financeira, que tem como objetivo inibir os abusos que ajudaram a causar a crise. Obama quer usar a aprovação da reforma para pressionar por avanços nas regulamentações financeiras globais na cúpula do G-20.

¿Precisamos agir em conjunto, porque esta crise provou que nossas economias estão inextricavelmente ligadas", disse Obama. O G20 se comprometeu a adotar uma série de reformas até o fim de 2012. Os EUA estão bastante próximos desse objetivo. Já a Europa ainda não formulou regras abrangentes para reforma bancária. Há divergências em relação à taxa sobre bancos. EUA, Brasil, Canadá e Japão se opõem, argumentando que seus sistemas financeiros não foram afetados pela crise e nem têm excesso de ativos arriscados.

Outro polo de desacordo é a retirada de estímulo e ajuste fiscal. O fato de a crise ter ressurgido em nova forma na Europa, com alto endividamento soberano, restringiu os objetivos da cúpula. "Na primeira cúpula, em 2008, em Washington, imaginávamos que na reunião deste ano poderíamos olhar para o futuro e discutir questões mais profundas. Mas com o aprofundamento da crise, a cúpula continua a tentar coordenar políticas macroeconômicas para superar as graves dificuldades que ainda existem", disse uma fonte próxima às negociações.

EUA, Brasil e China estão alinhados para manter os estímulos globais, e Europa e Japão preocupados com os déficits do orçamento e iniciando cortes de gastos. O Canadá se juntou ao coro dos defensores da austeridade. No sábado, o primeiro-ministro canadense, Stephen Harper, exortou os países do G-20 a reduzir pela metade seus déficits até 2013 e por a relação dívida-PIB em trajetória descendente até 2016.

Os líderes jantaram ontem à noite, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, representou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Hoje, os líderes vão discutir primeiro a estratégia para reequilíbrio da economia mundial, depois as instituições financeiras internacionais, mudança climática, comércio e, à tarde, a reforma regulatória.

Na última cúpula de líderes do G-20, em Pittsburgh, em setembro de 2009, ficou estabelecido um caminho para reequilibrar a economia mundial - os países com superávit em conta corrente, principalmente a China, mas também Alemanha e Japão, se comprometem a estimular suas demandas internas e não depender tanto de exportações. Já países consumidores como os EUA se comprometem a elevar a poupança e dividir o déficit em conta-corrente, exportando mais e importando menos. Para o governo brasileiro, o aperto fiscal dos europeus contraria a estratégia.