Título: Sequência de banhos de sangue e impunidade
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Fonte: O Estado de São Paulo, 30/06/2010, Internacional, p. A14
Quase 25 mil mortos, instituições seguidamente hostilizadas, atentados a bala, sequestros e execução de políticos das principais agremiações, crianças sem escola, comunidades inteiras sob terror, negócios afundando, democracia em risco, um Estado no fio da navalha. É o México de Felipe Calderón Hinojosa.
Quatro anos após declarar guerra aos cartéis do narcotráfico ? pelas ruas marcham 50 mil soldados e todo o efetivo da Polícia Federal ?, Calderón se vê cada vez mais afrontado pela audácia do crime organizado, que não dá sinais de fadiga apesar de tantas baixas sofridas. No país conflagrado, a população curva-se ante o toque de recolher paralelo.
A oposição no Congresso e a imprensa apontam o insucesso do modelo de repressão adotado pelo presidente. "Se Calderón não pode, que renuncie", sugere El Diario, principal jornal de Cidade Juárez, a grande zona de conflito na fronteira com o Texas, Estados Unidos. O periódico, que perdeu um de seus repórteres emboscado há dois anos, narra "constantes intimidações" e afirma que a impunidade converte o Estado de direito em "elemento decorativo". Especialistas e estudiosos apontam insistentemente desvios e equívocos da força-tarefa de Calderón. Entidades de direitos humanos atribuem a violência aos militares e pedem seu retorno aos quartéis. Calderón, porém, não se mostra disposto a abrir mão da estratégia. Seus generais sustentam que 90% das vítimas do banho de sangue pertencem ao próprio crime organizado, que disputa a ferro e fogo as praças da droga.
O presidente está convencido de que só o combate sem tréguas vai livrar seu país da tirania dos barões do narcotráfico. Acredita firmemente que trilha o caminho certo e parecem claros os sinais de que pretende segui-lo até o fim de seu mandato, em 2012.