Título: Telefónica aumenta proposta para levar fatia de portugueses na Vivo
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Fonte: O Estado de São Paulo, 30/06/2010, Negocios, p. B12

Acionistas da Portugal Telecom decidem hoje se aceitam a oferta dos espanhóis, elevada ontem de 6,5 bilhões para 7,15 bilhões, pela sua participação na controladora da Vivo, maior operadora de telefonia móvel do Brasil

Os acionistas da Portugal Telecom (PT) decidem hoje o futuro da Vivo. Ontem, a Telefónica decidiu aumentar de 6,5 bilhões para 7,15 bilhões sua proposta pela fatia dos portugueses na maior operadora celular do Brasil. Os espanhóis decidiram elevar a proposta para tentar garantir um resultado favorável na votação em assembleia de acionistas, que acontece hoje.

Eles precisam conseguir maioria simples entre os investidores presentes. Segundo o Jornal de Negócios, de Portugal, cerca de três quartos dos acionistas se inscreveram para a assembleia. Os acionistas portugueses, que eram contra a oferta anterior, detêm cerca de 28% do capital da empresa.

A Telefónica era o maior acionista da PT, mas pode ser impedida de votar por conflito de interesses. A empresa tentou se desfazer da maior parte de suas ações, reduzindo a participação para 2,02%, em contratos com opção de recompra, mas a autoridade do mercado acionário português decidiu na segunda-feira que os espanhóis não podem transferir seu direito de votos, por meio desses contratos.

Essa decisão colocou em risco a aprovação da oferta anterior. Vários analistas condicionavam uma decisão favorável à Telefónica a um aumento de sua proposta. A PT tem 50% da Brasilcel, que controla 60% da Vivo.

Conflito. Ontem, antes do aumento da proposta da Telefónica, o presidente da PT, Zeinal Bava, sugeriu que as empresas aceitassem o resultado da assembleia de hoje, terminando o conflito entre elas. "Em relação ao Brasil, tudo já foi dito. Aceitaremos a decisão da assembleia geral e esperamos que a Telefónica também o faça", disse na sua intervenção no XI Fórum Telecom e Mídia, organizado pelo jornal português Diário Econômico.

Segundo Bava, a PT não esperava que a Telefónica fizesse uma oferta pela Vivo. "Nunca da nossa parte houve hostilidade em relação ao nosso parceiro. A Vivo fez uma transformação do CDMA para GSM com 25 milhões de clientes. O risco disso é enorme, com milhões de pessoas usando os telefones todos os dias. Isso não seria possível sem uma boa relação com os nossos parceiros."

Ele atribuiu à sua empresa um papel fundamental na mudança tecnológica realizada pela Vivo no Brasil. "Podemos dizer que as impressões digitais do desenvolvimento Vivo têm a marca da Portugal Telecom."

Uma questão que se coloca agora é o que a PT fará com o dinheiro, caso a proposta seja aprovada. O discurso da PT, até agora, foi de que a Vivo era essencial para o futuro da empresa. "A Vivo é um pilar importantíssimo do desenvolvimento da PT. O Brasil nos dá escalas e a África, mobilidade. Acreditamos no crescimento do mercado brasileiro", disse Bava.

A principal opção da PT seria se associar à Oi, mas os acionistas privados da empresa foram ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva pedir que a operadora brasileira fosse blindada, para evitar que seu controle caísse nas mãos de acionistas internacionais.

A Telefónica fez várias tentativas de garantir a aprovação da sua oferta, sem ter de aumentá-la mais uma vez. A primeira proposta dos espanhóis, de 5,7 bilhões, foi rejeitada pelo conselho de administração da PT, sem submetê-la aos acionistas. Para a proposta de 6,5 bilhões, foi marcada uma assembleia, mas os gestores da PT disseram que ela não refletia o valor da Vivo para a Telefónica. Os acionistas portugueses da companhia haviam anunciado que iriam votar contra ela.

Antes de aumentar a oferta para 7,15 bilhões, a Telefónica tentou colocar na pauta da assembleia a distribuição de um dividendo extraordinário de 1 por ação, caso a venda da Vivo fosse aprovada. O presidente da assembleia, António Menezes Cordeiro, rejeitou o pedido de que o pagamento do dividendo fosse incluído na pauta.

Depois disso, a Telefónica tentou transferir seu direito de voto, para não correr o risco de o presidente da assembleia considerá-la impedida de votar. A autoridade portuguesa do mercado acionário vetou essa transferência. / JAIR RATTNER, ESPECIAL PARA O ESTADO, E RENATO CRUZ, COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS