Título: Para portugueses, não interessa ser minoritários
Autor: Mendes, Karla
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/06/2010, Economia, p. B1

Problema na associação entre Portugal Telecom e Oi seria acertar estrutura acionária e governança corporativa

Em tese, a entrada da Portugal Telecom (PT) na Oi parece ser uma solução natural, caso a venda da fatia dos portugueses na Vivo venha a se concretizar. A PT teria os bolsos cheios e todo o interesse de permanecer no Brasil, motor de crescimento e fonte de mais da metade da receita do grupo.

Do lado da Oi, o investimento ajudaria a reduzir a dívida e, no caso de uma participação cruzada, seria uma saída para a internacionalização do grupo, movimento que nunca se concretizou e foi usado como um dos argumentos para a compra da Brasil Telecom (BrT). Além de Portugal, a PT tem negócios na África.

Na prática, trata-se de uma negociação difícil, no que diz respeito a acertar uma estrutura acionária e uma proposta de governança corporativa que atendam a todos os lados. A Andrade Gutierrez e o grupo La Fonte, do empresário Carlos Jereissati, controladores da Oi, estariam dispostos a aceitar o sócio estrangeiro somente como minoritário.

Os acionistas privados da Oi estão acostumados a tocar a empresa, desde a sua privatização, em 1998, com recursos públicos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e dos fundos de pensão de estatais, mas sem interferência desses controladores.

Os portugueses, por outro lado, não aceitam ser minoritários. Segundo fontes de mercado, a posição deles é a de que "não são fundos de investimento", para deixarem de se envolver na operação. A PT acredita que poderia trazer recursos e conhecimento de mercado que melhoraria o desempenho da Oi, que tem enfrentado dificuldades desde a compra da BrT.

Esta semana, a Oi teve rejeitada pelos minoritários uma proposta de incorporação das ações da BrT. A própria compra da BrT, em 2008, foi cercada de polêmica, com mudança de regras para permitir a aquisição e forte presença dos bancos oficiais na operação.

Na visão dos portugueses, no entanto, a Oi não tem outra opção de sócio. A PT seria a única empresa internacional que não enfrentaria oposição, porque a compra da BrT foi carregada de um forte discurso nacionalista. Antes de a operação ser fechada, chegou a ser discutida a criação de um grupo "lusófono" de telecomunicações, sem resultado.

No começo do mês, a Telefónica apresentou uma proposta de 6,5 bilhões pela fatia de 50% que a PT possui na Brasilcel, controladora da Vivo. A oferta será apreciada em assembleia de acionistas no próximo dia 30. Os acionistas portugueses da PT consideram a proposta baixa e fazem campanha para que os espanhóis aumentem a oferta.

Existem hoje dois grandes grupos internacionais de telecomunicações no Brasil: a Telefónica (com a operadora fixa de São Paulo e a Vivo) e a América Móvil (com Claro, Embratel e Net). Além disso, a francesa Vivendi comprou a GVT e os italianos têm a TIM e a Intelig. A Telefónica é acionista da Telecom Italia, dona da TIM.

Surpresa. A tentativa de "blindagem" da Oi foi uma surpresa para Júlio Puschel, analista sênior da Informa Telecoms & Media. "Me surpreende essa procura por blindagem. Fico surpreso com esse discurso, pois na época da venda da BrT o governo queria que houvesse golden share, exatamente para impedir que a empresa pudesse ser alvo de compra de grupos estrangeiros, mas a Oi conseguiu que essa imposição fosse retirada na última hora", lembrou.

O especialista acha improvável que a blindagem contra a venda seja o principal objetivo da aproximação da Oi com o governo. Por trás desse discurso, segundo Puschel, está a preocupação com o fortalecimento dos mexicanos no mercado. "Como única operadora convergente no mercado, a Oi terá em pouco tempo um player que concorrerá, rapidamente, no mesmo mercado que ela, oferecendo os mesmos serviços", observou.