Título: Lula diz que sistema está apodrecido
Autor: Farid, Jacqueline
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/06/2010, Economia, p. B8

Em discurso na inauguração da siderúrgica CSA, presidente critica sistema financeiro e defende medidas para estimular a economia mundial

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou ontem o gerenciamento europeu da atual crise econômica global e defendeu que medidas indutoras do desenvolvimento, e não o ajuste fiscal, são o caminho para enfrentar as turbulências. Segundo o presidente, as recentes crises econômicas no mundo expuseram as mazelas do sistema financeiro internacional, que segundo ele "está apodrecido".

"O Brasil, que já foi tão fiscalizado, deveria servir de exemplo", afirmou o presidente "As pessoas deviam vir conhecer o sistema financeiro brasileiro para ver que somos sérios", discursou, na cerimônia que marcou o inicio das operações da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA).

O presidente comparou o que considera uma lentidão da ajuda de países europeus à Grécia ao agravamento da crise norte-americana que, de acordo com ele, agravou-se por causa da demora do socorro à economia do país na gestão do então presidente George Bush.

"A crise hoje é uma crise europeia de demora de tomada de decisão", afirmou.

Receita. "Quando a gente descobre que um paciente tem uma doença, não manda esperar. Aplica o remédio. Não é possível que um país do tamanho da Grécia provoque uma crise na Europa inteira", disse o presidente.

"Se a Europa tivesse resolvido logo o problema da Grécia, a crise não teria chegado à Espanha, Itália e Portugal e teriam descoberto logo que o sistema financeiro estava um pouco apodrecido no chamado mundo rico."

O presidente também marcou uma separação que existiria hoje, no mundo, entre os que defendem o rigor fiscal e os que acham que se deve dar prioridade a medidas de incentivo ao crescimento econômico.

De acordo com Lula, enquanto os chamados Brics (grupo de países emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia e China) e os Estados Unidos defendem hoje a retomada do desenvolvimento, a Europa acredita que o mundo precisa fazer um ajuste fiscal. Na opinião do presidente, as medidas que estão sendo anunciadas para conter gastos públicos e reduzir o endividamento dos países tendem a agravar a crise, já que tendem a aumentar o desemprego.

"Nestas crises, temos que fazer o contrário: investir, que foi o que nós fizemos, e por isso o Brasil está em uma situação confortável, boa, economicamente", discursou o presidente.

Lula garantiu, entretanto, que o País continua preocupado com a responsabilidade fiscal. Ele justificou os reajustes concedidos esta semana ao funcionalismo público.

Segundo o presidente, a decisão de sancionar o reajuste de 7,7% para os aposentados foi decidida porque os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Planejamento, Paulo Bernardo, acertaram cortes no Orçamento como forma de compensar o aumento de despesa.

"Neste momento, não quero dar nenhum sinal de irresponsabilidade", garantiu o presidente. "Quero entregar este País mais preparado do que encontrei, para que não ocorra um retrocesso, como já ocorreu historicamente", afirmou.

Segundo o presidente, nos próximos dez anos o Brasil será a quarta ou a quinta economia do mundo. "Vamos crescer muito, com responsabilidade e seriedade, e não vamos brincar."