Título: Suposta conspiração radicalizou caça às bruxas do governo
Autor: Oliveira, João Naves de
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/07/2010, Internacional, p. A12

O desmantelamento do grupo de mercenários que estaria supostamente tramando para matar o presidente Evo Morales em abril de 2009 em Santa Cruz abriu uma nova etapa na disputa entre o governo boliviano e a oposição. Nos anos anteriores, os líderes de Santa Cruz, a região mais rica do país, haviam organizado uma série de atos para mostrar força e pedir mais independência de La Paz. Foi esse o caso do referendo autonomista, em maio de 2008, e da greve geral que paralisou o país, em agosto do mesmo ano.

Já em 2008, o governo começou a processar opositores responsabilizados por mortes ocorridas em um conflito em Pando, na greve. Mas foi a partir de 2009 com o suposto complô, que se acirrou a caça às bruxas. Multiplicaram-se as denúncias de planos para atentar contra Evo. Acusados de envolvimento, opositores como o ex-presidente do Comitê Cívico Pró-Santa Cruz Branko Marinkovic e o ex-líder da União Juvenil Crucenhista David Sejas deixaram o país. "Fugiram porque têm culpa", acusou o governo. "O julgamento não seria imparcial", rebateu a oposição.

A maior parte das denúncias ainda não foi comprovada, mas o governo apresentou o que seriam indícios de apoio logístico de empresários opositores ao grupo de três supostos mercenários estrangeiros (um deles também tinha nacionalidade boliviana) mortos pela polícia. Circulam na Bolívia três versões do caso, segundo Carlos Morales, ex-chefe de redação do jornal La Prensa, de La Paz, e agora editor do El Deber, em Santa Cruz. A primeira, do governo, é que eles foram contratados para matar Evo e iniciar um conflito separatista. A segunda, da oposição, é que a versão foi inventada para tirar de cena os líderes opositores. A terceira, que fica no meio do caminho, é a de que os estrangeiros seriam parte de uma espécie de grupo de autodefesa que alguns empresários estariam tentando montar para se proteger e enfrentar aliados de Evo. Mais de um ano depois, pouco ou quase nada foi esclarecido dessa história.