Título: Descobertos anticorpos resistentes ao HIV
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Fonte: O Estado de São Paulo, 09/07/2010, Vida, p. A14

Segundo médicos americanos, eles são capazes de neutralizar 90% das mutações

Pesquisadores americanos descobriram dois anticorpos que podem oferecer proteção contra o vírus causador da aids. E afirmam, em estudo publicado na edição de hoje da revista Science, que é possível usá-los para desenvolver uma vacina contra o HIV.

Esses anticorpos podem neutralizar 90% das mutações conhecidas do vírus, explicou o médico virologista que liderou o estudo, Gary Nabel, do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos (Niaid, em inglês).

Segundo a pesquisa, algumas pessoas produzem esses anticorpos após serem infectadas com o HIV. Os cientistas agora pretendem desenvolver uma vacina que possibilite a produção desses anticorpos antes da infecção.

"É um anticorpo que evoluiu após o fato. Isso é parte do problema que temos ao lidar com o HIV: uma vez que a pessoa é infectada, o vírus sempre chega na frente do sistema imunológico", explicou Nabel. "O que estamos tentando fazer com uma vacina é chegar na frente do vírus", acrescentou.

O HIV é difícil de combater porque ele ataca as células do sistema imunológico e sofre mutações constantemente.

Desconfiança. Desenvolver uma vacina que contenha o vírus tem sido uma missão quase impossível. Em setembro do ano passado, pesquisadores tailandeses reportaram sucesso com uma vacina que teria desacelerado a taxa de infecção em 30% dos voluntários, mas a experiência gerou desconfiança na comunidade científica.

Para criar uma vacina, os cientistas têm procurado por partes do vírus que não são mutáveis, ou seja, alvos estáticos. A equipe de Nabel encontrou dois anticorpos no sangue de um paciente infectado que não ficaram doentes. Em outro experimento, eles conseguiram congelar um desses anticorpos no momento em que ele neutralizava o HIV e puderam estudar sua estrutura.

Com essa informação, uma vacina pode começar a ser criada. Outra opção seria desenvolver uma terapia gênica que estimulasse a produção desses anticorpos.

"Os anticorpos se ligam a uma parte virtualmente imutável do vírus e isso explica por que eles conseguem neutralizar uma quantidade extraordinária de cepas", afirmou outro membro da equipe, John Mascola.

Para o diretor do Niaid, Anthony Fauci, a técnica pode ser usada para criar vacinas para outras doenças.