Título: Ensino médio fraco pode prejudicar economia
Autor: Formenti, Lígia; Moura, Rafael Moraes
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/07/2010, Vida, p. A18

Especialistas em educação ouvidos pelo Estado afirmam que o principal impacto do gargalo do ensino médio pode ser medido, a longo prazo, no mercado de trabalho, que pode sofrer com escassez de mão de obra de qualidade e profissionais mal preparados. "A qualidade do aprendizado se reflete na produtividade. Aprender pouco significa produzir pouco. Isso pode prejudicar a competitividade do Brasil com países que têm o ensino mais forte", afirma Naercio Menezes, economista da educação do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), antigo Ibmec. De acordo com ele, a solução está no investimento em mais escolas técnicas, que ofereçam um ensino mais prático.

O crescimento entre 2007 e 2009 do Ideb no ensino médio foi considerado insuficiente pelos educadores. "O aumento de 0,1 pode ser avaliado como abaixo do que é sofrível. É insignificante. A maioria dos jovens que está saindo da escola está despreparada para exercer qualquer tipo de atividade que exija preparo intelectual", afirma Elisabeth da Fonseca Guimarães, professora da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

"O jovem, mesmo quando cursa (o ensino médio), não tem o passaporte mínimo para o mercado de trabalho. Temos uma sangria nessa etapa da educação", diz Wanda Aduan, superintendente do Instituto Unibanco e especialista em ensino médio. Para ela, falta foco no conteúdo do ensino médio.

O especialista em avaliação da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Cipriano Carlos Luckesi, concorda. "Vem ocorrendo um esforço para melhorar o sistema nacional de ensino, desde que as avaliações começaram. Mas é preciso pensar o ensino médio com finalidade própria. Ao meu ver, ainda é uma etapa muito controversa, especialmente pelo foco atribuído ao vestibular", opina ele, que também acredita na criação de escolas técnicas como solução. Segundo Luckesi, o aumento do Ideb, de uma forma geral, decorre do maior conhecimento da realidade da educação e de investimentos na área.

"O Brasil avançou. Mas ainda falta muito, especialmente no que diz respeito à permanência e à qualidade do nosso ensino. Não adianta só crescer", afirma a especialista em avaliação da PUC-SP Sandra Acosta.