Título: Crescimento da economia contribuiu para saída de dólares
Autor: Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/07/2010, Economia, p. B3

A fuga de dólares em junho salta aos olhos de quem imaginava que o forte crescimento da economia blindaria o País das turbulências internacionais.

Números recentes mostram que pode ser exatamente o contrário.

Agora, o Brasil tem dois motores que trabalham juntos pela saída da moeda estrangeira: a turbulência internacional - que suga lucros de multinacionais e retira investidores do mercado financeiro - e o crescente aumento de gastos de brasileiros em dólar, como nas viagens e compras de produtos importados.

Nos anos 90, as crises geravam grandes fugas de dólares do Brasil pelo medo de que o País quebraria de uma hora para a outra. Como resultado, as contas externas entravam em frangalhos a cada crise.

O motor dessa fuga, porém, era único: a desconfiança internacional.

Hoje, essa desconfiança diminuiu muito. Há até quem diga que o Brasil é mais seguro que alguns países europeus. Além disso, a economia apresenta números robustos de crescimento, com vendas e lucros crescentes.

A situação é extremamente favorável ao Brasil, mas gera problemas para as contas externas.

Nos últimos anos, mesmo com a grave crise internacional, o brasileiro nunca viajou tanto ao exterior e as gôndolas dos supermercados nunca estiveram tão cheias de importados.

Esse cenário, que aumenta a saída de dólares, é explicado pela melhora da renda e do mercado de trabalho. Ao mesmo tempo, empresas internacionais instaladas no Brasil, que mostram, com orgulho, lucros crescentes em seus balanços, passaram a ajudar matrizes em momentos difíceis, com a transferência de ganhos às sedes.

Para piorar, turbulências como a que se vê no mercado externo atiçam o investidor estrangeiro, que, mesmo com o menor risco do País, vendem ações e papéis brasileiros e voltam para a segurança de casa de uma hora para a outra.

Exatamente como nos anos 90.

A saída de dólares não preocupa governo e economistas atualmente porque o Brasil tem mais de US$ 250 bilhões em reservas internacionais. Mas o quadro pode mudar.

A perspectiva de déficits em transações correntes cada vez maiores nos próximos anos acende a luz de alerta para a sustentabilidade das contas externas brasileiras.