Título: G-20 quer tabelar produtos agrícolas e minério, diz Lula
Autor: Nossa, Leonencio
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/07/2010, Economia, p. B4
Presidente alerta que as maiores economias do mundo vão pressionar para que o "mundo pobre" pague a conta da crise
Em seu quinto dia de viagem à África, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva retomou o discurso contra a política dos Estados Unidos e da Comunidade Europeia para combater os efeitos da crise internacional.
Em encontro com empresários da Tanzânia, ele alertou que os ricos vão tentar, no G-20 (grupo das 20 maiores economias), tabelar preços dos minérios e de produtos agrícolas, principais commodities produzidas por africanos e latino-americanos.
Lula disse que as maiores economias vão pressionar para que o "mundo pobre" pague a conta das turbulências econômicas na reunião do G-20, que ocorrerá em Seul, na Coreia do Sul, em novembro. "Preste atenção em uma coisa que vou dizer: nas próximas reuniões do G-20, os países ricos vão levantar os preços das commodities, vão levantar os preços daquilo que os países pobres têm", afirmou. "Vão querer tabelar os preços. Alguns já tabelam na bolsa de Chicago."
No último encontro do G-20, no mês passado, em Toronto, Canadá, o Brasil e outros emergentes não fecharam vários acordos sobre metas para compensar os prejuízos da crise financeira de 2008 e 2009, como a redução do déficit público pela metade.
Pelo discurso de Lula na Tanzânia, as divergências vão continuar em Seul. "Eles vão tentar criar confusão com os países pobres, que têm minério para exportar, porque querem controlar os preços", disse. "Agora, não querem que nós controlemos os preços dos produtos manufaturados que eles exportam", completou. "Porque se eles acreditassem realmente em livre mercado fariam acordo na Rodada Doha", disse o presidente.
Foi a pedido da Vale que Lula incluiu em seu 11.º giro pela África a caótica Dar Es Salaam, sede do governo tanzaniano, cidade de 1 milhão de habitantes à beira do Oceano Índico, com mais da metade da população vivendo na pobreza. Lula defendeu a Vale, que participará de licitações para explorar minas de carvão e fosfato no sul da Tanzânia, perto da fronteira com Moçambique.
Chineses. Na estratégia de convencer o governo tanzaniano a optar pela Vale, Lula bateu tambor nas escadarias do palácio presidencial, visitou feira agrícola e fez dois discursos longos para mostrar a "aproximação" com o país da África Oriental. O primeiro discurso foi às 9h, horário local, 3 da madrugada em Brasília.
Lula disse que as empresas chinesas, principais concorrentes da Vale, estão mais perto da Tanzânia, mas não irão garantir emprego a trabalhadores do país. Segundo ele, a China costuma usar seus próprios cidadãos nos empreendimentos no exterior. "Nada contra os meus amigos chineses, mas eles não geram oportunidade de renda e trabalho."