Título: Sonhava que alunos passavam por cima de mim com skate
Autor: Capitelli, Marici
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/07/2010, Vida, p. A14

O choro brotava sem controle por qualquer motivo inclusive dentro da sala de aula. Também eram muitos os pesadelos. "Sonhava que entrava na sala e os alunos abriam as bocas e me engoliam. Em outro sonho, eles passavam por cima de mim com skate", conta uma professora de 53 anos e 20 de magistério que está afastada da sala de aula desde 2003. O primeiro diagnóstico de que não estava bem emocionalmente foi dado em 1995. "Mas eu resisti, achava que era insubstituível."

Os anos foram passando e os sintomas aumentando. "Faltava muito porque não conseguia enfrentar a sala de aula. Passei a ter medo dos alunos", diz a professora. Em 2003, foi diagnosticada com problemas psiquiátricos. Durante um ano praticamente não saiu de casa. "Não falava com ninguém, me isolei do mundo", recorda.

Reclassificação. A Prefeitura afirma que depressão e ansiedade são os principais motivos de afastamento dentre os transtornos psiquiátricos. Iracema de Jesus, do Fórum de Professores Readaptados, ressalta que essa classificação é vaga e não reflete o problema da categoria. O Fórum quer que a síndrome de burnout seja reconhecida como uma doença do trabalho para os professores. "Com o reconhecimento dessa doença, os direitos dos professores são outros, porque fica comprovado que eles adquiriram doença profissional."

Ana Maria Rossi, presidente do Internacional Stresse Mangement Association do Brasil (Isma-BR), que coordenou uma pesquisa sobre a doença, afirma que 30% dos profissionais economicamente ativos no País têm a síndrome. Os professores são a quarta categoria mais atingida. Em primeiro lugar estão os trabalhadores que atuam com segurança, seguidos por controladores de voo e os executivos.