Título: Pobreza cai mais onde crescimento foi menor
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/07/2010, Economia, p. B7

Estudo do Ipea mostra que PIB per capita, de 1995 a 2008, cresceu menos no Sul e Sudeste, regiões de maior redução de pobres e miseráveis

As regiões brasileiras que menos cresceram entre 1995 e 2008 foram as que tiveram maior redução da pobreza e da miséria. E, inversamente, as que mais se expandiram foram as com menor queda da pobreza e da miséria.

Essa constatação, aparentemente paradoxal, está num estudo recém-divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Segundo o trabalho, as Regiões Sul e Sudeste apresentaram os menores crescimentos médios anuais do Produto Interno Bruto (PIB) per capita de 1995 a 2008, de respectivamente 2,3% e 2,5%. Ainda assim, a Região Sul teve as maiores quedas médias anuais da pobreza e da miséria, de 3% e 3,7%. Na Região Sudeste, a pobreza caiu 2,3% ao ano, segundo melhor resultado do Brasil, e o recuo médio anual da miséria foi de 2,7%, também o segundo melhor, junto com o Nordeste.

Já a Região Centro-Oeste foi a que mais se expandiu naquele período, com crescimento médio anual do PIB per capita de 5,3%. Em segundo lugar, vem a Região Norte, com 3,6%. A pobreza e a miséria, porém, tiveram quedas anuais de apenas 0,9% e 2,3%, no caso da Região Centro-Oeste; e de 1,1% e 1,6%, na Região Norte. Todas as outras regiões do Brasil tiveram quedas anuais médias da pobreza e da miséria, entre 1995 e 2008, superiores às das Regiões Centro-Oeste e Norte.

Marcio Pochmann, presidente do Ipea, diz que não há estudos prontos para avaliar por que esse fenômeno paradoxal ocorreu, mas os técnicos do Ipea já estão investigando.

A sua hipótese inicial é de que a presença de uma economia mais desenvolvida e geradora de empregos na indústria e nos serviços, de instituições mais consolidadas e de organizações da sociedade civil mais atuantes possa explicar porque Sul e Sudeste tiveram mais avanço nos indicadores sociais, mesmo crescendo menos.

Inversamente, regiões mais dependentes da agropecuária de exportação e da extração de recursos minerais teriam um tipo de crescimento menos criador de empregos, e menos eficaz socialmente. "O futuro do Brasil não pode estar apenas na produção de bens primários para a exportação", disse Pochmann.

Fim da miséria. O estudo divulgado ontem mostrou também que uma grande ênfase na redução das desigualdades regionais será necessária para que o Brasil acabe com a miséria e reduza a pobreza a apenas 4% da população em 2016. Essas projeções estão num estudo de janeiro do Ipea, e podem ocorrer desde que o ritmo de redução da pobreza e da miséria entre 2009 e 2016 seja o mesmo apresentado entre 2003 e 2008. O problema, porém, é que, para que aquelas projeções se cumpram, em alguns Estados, como Alagoas e Maranhão, os indicadores terão de ser melhorados num ritmo bem mais rápido do que o do País como um todo.