Título: Cientistas defendem plantio de maconha
Autor: Toledo, Karina
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/07/2010, Vida, p. A16

O Estado de S.Paulo

A descriminalização do uso da maconha e a permissão para o plantio de pequenas quantidades da planta para consumo próprio foram defendidas em carta pública por um grupo de neurocientistas renomados ? entre eles Stevens Rehen, Sidarta Ribeiro e Cecília Hedin, diretores da Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento (SBNeC).

"A legislação atual não pune o usuário. Mas, se ele não pode plantar, acaba tendo de recorrer ao tráfico. Aí, sim, estará cometendo um crime. Queríamos usar nossa influência como cientistas para apontar esse paradoxo", diz Ribeiro.

A prisão do músico Pedro Caetano, da banda de reggae Ponto de Equilíbrio, acusado de tráfico por cultivar dez pés de maconha em casa, foi uma das motivações para a elaboração do documento, conta Rehen. O cientista é irmão do baterista da banda, Lucas Kastrup. "A violência do tráfico é mais nociva à sociedade que a maconha. Cresci na zona norte do Rio e perdi muitos amigos por causa do tráfico."

Ele diz defender a descriminalização da droga como cidadão e não como cientista. E afirma ser favorável ao uso terapêutico da maconha em casos de câncer e esclerose múltipla, posição que também é defendida pelo diretor do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, da Unifesp, Elisaldo Carlini.

O psiquiatra Carlos Salgado, presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas, é contrário a todo tipo de flexibilização para o uso da planta. "Qualquer medida liberalizadora aumenta o uso", afirma. "Há outros medicamentos que podem ser usados no lugar da maconha, sem risco de uso abusivo."

Segundo ele, a grande maioria das pessoas, quando encontra alguma resistência para experimentar uma droga, acaba desistindo. Quando encontra facilidade, porém, é maior a chance de experimentar a substância, afirma.

O presidente da SBNeC, Marcus Vinícius Baldo, diz que a entidade ainda não tem uma posição oficial sobre o assunto, mas que ele será discutido em congresso que será realizado em setembro.