Título: Para Fazenda, matéria-prima deve aliviar inflação
Autor: Graner, Fabio Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/07/2010, Economia, p. B4

Estudo do ministério indica que a redução das compras chinesas vai afetar o preço das commodities

O Estado de S.Paulo

As commodities devem se transformar daqui para a frente num aliado do governo no combate à inflação. Diante de uma economia chinesa crescendo em ritmo menos intenso, o Ministério da Fazenda enxerga nos próximos meses um cenário sem pressão de preços nas commodities (produtos básicos negociados no mercado internacional), até mesmo com tendência de baixa nas cotações.

Levantamento da área técnica do Ministério da Fazenda, obtido pelo Estado, mostra que a redução da demanda chinesa por importações de commodities já é uma realidade e deve ajudar a segurar os preços.

No caso do minério de ferro (produto básico não negociado em bolsa), a Fazenda avalia que o excedente que não for exportado para a China ajuda a conter (ou até reduzir) os preços do mercado interno.

No cenário traçado pela área técnica da pasta, segundo informou uma fonte ao Estado, esse quadro favorável deve levar a uma menor elevação dos índices gerais de preços (IGPs), contribuindo para conter a inflação dos preços administrados e reforçando a previsão de que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2011 ficará em 4,5%, no centro da meta.

A área técnica da Fazenda acompanha com atenção a evolução dos preços das commodities. Se de um lado o cenário de estabilidade e até de recuo de preços segura a inflação, de outro, pode pesar negativamente no resultado da balança comercial. Os últimos dados da balança já evidenciam isso, capturando o recuo nos preços verificado nos últimos meses em menores números de exportação.

O desempenho da China tem sido decisivo para a evolução dos preços das principais matérias-primas e também dos alimentos. Se a economia que mais cresce no mundo diminui seu ritmo, a tendência é que a demanda para esses produtos caia e os preços também.

A uma menor intensidade da economia chinesa deve-se somar o fraco crescimento dos países desenvolvidos e as expectativas de que uma retomada vai demorar para acontecer por conta da crise europeia.

O impacto desse ambiente econômico não tão favorável nos preços das commodities em grande medida já aconteceu e, por isso, o Ministério da Fazenda acredita agora em uma estabilidade, com ainda alguma eventual queda.

Para o minério de ferro, os técnicos já detectam um menor volume de importações da China, que até mesmo já teria formado estoques do produto. Isso deve pôr um freio no ímpeto das empresas para remarcação de preços, diminuindo o impacto inflacionário.

As exportações de minério não aglomerado para o país asiático, que em 2009 representavam 74,5% das exportações brasileiras do produto, neste ano caíram para 53,5%. Além disso, a menor demanda chinesa pelo produto, que não deve ser compensada por uma maior procura dos países desenvolvidos, tende a criar um excedente de minério de ferro nas empresas brasileiras, cuja tendência é ser direcionado para o mercado interno, com chances até de obtenção de preços menores.

Segundo a fonte, isso eventualmente poderá ter até uma repercussão positiva no preço do aço.

O novo cenário traçado na área técnica da Fazenda considera que, sem pressão de preços de commodities, a tese de alguns analistas de que o IPCA de 2011 já teria contratado uma inflação de 1,25% a 1,5% por conta de preços administrados não se sustenta.

Pelas contas da Fazenda, a contribuição dos administrados para o IPCA, nesse novo quadro, seria da ordem de 1 ponto porcentual. Além disso, a estabilidade das commodities também deverá ter impacto favorável nos preços livres, embora a Fazenda não tenha feito uma estimativa sobre isso.

PARA ENTENDER Crescem as evidências de que a China está reduzindo o ritmo de crescimento. Há poucos dias o Goldman Sachs baixou suas previsões sobre o PIB chinês pela primeira vez desde a crise de 2008. As evidências, segundo o banco, mostram que as medidas destinadas a conter o boom imobiliário podem estar funcionando. Analistas acreditam que a desaceleração, a ser confirmada hoje com novos dados, é apenas a primeira freada de uma série.