Título: Desemprego elevado complica a situação política de Obama
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/07/2010, Economia, p. B6

Em apenas 18 meses de governo, o presidente americano, Barack Obama, conseguiu manobrar o Congresso e aprovar o pacote de US$ 862 bilhões em estímulos à economia, uma reforma dos planos de saúde que contempla US$ 1 trilhão em subsídios e o controle sobre os negócios de Wall Street. Mas Obama dá sinais pouco claros sobre como vai lidar com uma economia que não dá sinais de recuperação.

O anúncio da taxa de desemprego de 9,5% em junho não gerou alento nem motivação para o governo Obama. A razão está na incompatibilidade entre o desemprego elevado há 18 meses e a tradicional eleição da metade do mandato presidencial dentro de quatro meses.

Com caráter plebiscitário, o pleito de 2 de novembro dará aos americanos a oportunidade de escolher todos os 435 deputados, um terço do Senado e ainda os novos governadores de 37 dos 50 Estados e de dois territórios da federação. No fim das contas, o resultado dessa nova composição dará um teto para a capacidade administrativa e as ambições de Obama, entre as quais sua possível candidatura à reeleição.

Até agora, Obama vinha trabalhando sua agenda legislativa com o conforto da maioria democrata no Congresso. Mas o avanço do Tea Party, a facção à direita do Partido Republicano e fiel aos princípios liberais, tem sido sentido. O apelo ao corte de gastos e à menor interferência do Estado no mercado torna bem mais difícil a aprovação de novos pacotes de estímulo econômico pelo Congresso. Essa situação se reflete na inação do governo americano diante da estagnação econômica.

No plano externo, a reunião do G-20 (grupo das principais economias desenvolvidas e emergentes) trouxe um novo pesadelo para Obama. O presidente americano claramente esperava alguma flexibilidade dos líderes europeus em relação à redução do déficit fiscal em seus países, como forma de alimentar a demanda por produtos americanos nesses mercados e fazer a roda da economia doméstica se mover. O documento final do encontro, com metas de corte dos rombos nas contas públicas, fechou mais esse caminho. A menos que surjam soluções de fina criatividade, Obama tenderá a perder sua maioria no Congresso e amargar um difícil fim de mandato.