Título: Efeito do atual ciclo de alta dos juros só será sentido em 2011
Autor: Farid, Jaqueline; Leopoldo, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/07/2010, Economia, p. B1

Uma inflação mais baixa em 2010 e expectativas menos pressionadas facilitam a tarefa de convergência do IPCA para mais próximo do centro da meta em 2011. Nesse sentido, tais fatores e a desaceleração em curso da atividade econômica aumentam a probabilidade de uma menor elevação da taxa de juros Selic em relação ao previsto anteriormente.

De outro lado, dificilmente, a inflação ficará no centro da meta em 2010. Os primeiros meses do ano trouxeram surpresas, com vários choques em preços administrados, como o reajuste de ônibus em São Paulo, educação e alimentos. Com isso, a inflação média ficou em 0,61% até maio. Tais fatores afastaram o IPCA acumulado em 12 meses do centro da meta, que atingiu 5,26% em abril.

Contribuindo também para isso, observou-se uma atividade econômica bem aquecida no primeiro trimestre do ano, e os condicionantes da demanda doméstica (crédito, confiança e mercado de trabalho) apontam que a desaceleração da atividade do segundo trimestre deve ser um movimento apenas de acomodação e não de reversão.

O segundo semestre deve ter um ritmo robusto do nível de atividade, deixando pouco espaço para uma inflação muito baixa nos meses restantes de 2010. E os impactos do atual ciclo de aperto monetário vão se dar principalmente sobre o quadro inflacionário de 2011.

A deflação de 0,09% no IPCA-15 de julho apontou para mais uma inflação bem reduzida no ano. Na Tendências Consultoria, projetamos variação zero para este mês. Em junho, a queda de preços dos alimentos puxou a inflação para baixo, e tal pressão baixista deve seguir significativa em julho, reflexo do restabelecimento da oferta dos alimentos. Os baixos resultados em junho e julho motivaram a revisão da nossa previsão para o IPCA do ano, de 5,40% para 5,0%.

Outra notícia boa foi a melhora do desempenho dos núcleos em junho e julho. O acompanhamento dos núcleos já foi apontado pelo Banco Central como um dos fatores preocupantes nos comunicados que acompanharam o atual ciclo de elevação da taxa de juros Selic. No IPCA-15 de julho, a média dos núcleos ficou em 0,23% ante 0,35% do IPCA fechado do mês passado.

O nível ficou bem confortável, não registrado desde meados de 2009. Ressalta-se, porém, que parte das informações do IPCA-15 já estava contida na divulgação do IPCA de junho. A continuidade desse bom desempenho no IPCA fechado de julho pode contribuir para a percepção de um cenário mais confortável da inflação corrente.

É ECONOMISTA E ANALISTA DE INFLAÇÃO DA TENDÊNCIAS CONSULTORIA INTEGRADA