Título: Mais de 600 mil relatam dificuldades
Autor: Leite, Fabiane ; Toledo, Karina
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/07/2010, Vida, p. A24

Estudo feito com dados do IBGE mostra que a falta de horário compatível é um dos principais problemas

Avaliação do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, aponta que 638,3 mil usuários de planos de saúde tiveram algum tipo de dificuldade em 2008 para conseguir atendimento pelo convênio médico.

A falta de horário compatível e a de atendimento quando solicitado foram os motivos mais frequentes para a dificuldade de acesso, com, respectivamente, 26% e 17% das respostas. No Sistema Único de Saúde (SUS), falta de dinheiro e de atendimento foram os motivos mais frequentes para as dificuldades de assistência, manifestadas por 4,2% dos entrevistados na Pnad.

Dados da própria Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) sobre a qualidade dos planos apontavam dificuldades das operadoras para garantir redes de atendimento suficientes para os usuários.

Um estudo apontou que, das 35 maiores operadoras do mercado em número de clientes, 71% tinham deficiência na oferta garantida pelo contrato de consultórios, hospitais e laboratórios, conforme revelou o Estado em reportagem publicada em abril.

A avaliação do IESS, porém, quantificou quanto seriam os usuários de planos com acesso prejudicado à saúde em um ano.

José Cechin, superintendente do IESS, entidade mantida por operadoras de plano, destaca que os 638,3 mil usuários com problemas de acesso são uma parcela ínfima do universo de 49,1 milhões de usuários de planos apurados pela Pnad.

"Apenas 1,3% teve problemas de acesso e os planos tiveram 80% de bom e ótimo. São casos isolados, mas que ganham destaque na imprensa", apontou.

"Tudo isso?", questionou o diretor-presidente da agência, Maurício Ceschin, ao comentar os números durante entrevista ao Estado. "É significativo."

A agência iniciou análises sobre abrangência da rede das operadoras e tempo de espera, atrelados ao desenvolvimento de indicadores sobre quais períodos seriam aceitáveis. "Não é razoável você ter alguém que paga um plano e não consegue acesso. Não basta ter um bom livro de rede referenciada se não estiver atrelado à qualidade e acesso", disse Ceschin.

"Isso desmascara e reafirma um problema do qual tanto falamos", afirma a advogada Daniela Trettel, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor.

O levantamento do IESS a partir da Pnad reforça ainda o domínio dos planos coletivos no mercado brasileiro. Mostra que, em 2008, 58,1% dos planos eram coletivos, contra 56,1% em 2003. Dos planos coletivos, segundo dados da ANS, 7 milhões são por adesão.