Título: A compra do plano ainda é emocional
Autor: Leite, Fabiane ; Toledo, Karina
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/07/2010, Vida, p. A24

O diretor-presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Maurício Ceschin, reconhece que faltam informações ao usuário na hora de assinar um plano coletivo. "A compra de um plano ainda é emocional." Destacou que pequenos grupos estão sujeitos a riscos maiores nessa modalidade, mas não são alertados. Leia trechos da entrevista concedida ao Estado anteontem, uma semana depois de o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, lhe dar posse para cinco anos de mandato.

Os planos coletivos foram esquecidos na legislação. Como resolver principalmente os problemas dos pequenos usuários dessa modalidade?

Teremos de rever, de alguma forma. Por que você se sente mais protegido em um plano coletivo de uma grande empresa? Porque há uma população grande, capacidade de diluição do risco. O princípio básico do seguro: à medida que você aumenta a população objeto do benefício, a capacidade de diluir os riscos e tornar o custo mais homogêneo é maior. Pode sofrer influencia de reajustes, mas você tem capacidade de diluir, o que não dá nos pequenos. Mas a agência tem a prerrogativa de fazer normas de reajuste só para planos individuais.

O problema principal é dos planos coletivos por adesão.

Os planos coletivos por adesão sem sombra de dúvida funcionaram como alternativa aos individuais. Uma saída do ponto de vista do preço. Ao juntar pessoas da mesma atividade em um pool, você tem uma capacidade de diluição do risco melhor. Qual a tendência? A precificação inicial é mais baixa e os reajustes ocorrem como os de uma grande empresa. Protege as associações com um número grande de beneficiários. O problema é quando o pool é menor. Olhar isso de uma forma mais atenta é imprescindível - e criar mecanismos de proteção. O problema é que é vantajoso no preço (inicial), mas tem o peso do reajuste. Isso tem de estar claro. Em um processo associativo ou em um processo que você socializa o risco em um pequeno número de pessoas, você está sujeito a variações de custo muito grandes.

Nem no site da ANS há isso bem explicado. Não é claro para o leigo?

Não. Acho que precisamos melhorar a comunicação com os consumidores. O site é para o setor e, do ponto de vista de entendimento, precisa ser aprimorado. Parte do que os órgãos de defesa entendem como fragilidade do consumidor está ligada a uma falta de informação organizada.

Quando vocês votaram a ultima resolução sobre planos coletivos, ainda ficou uma brecha para que quatro pessoas se unam, uma família, e façam um plano coletivo. As operadoras e corretoras fecham os olhos. Até que um idoso, uma avó, adoece e o preço estoura.

Eu concordo. A gente vai precisar revisitar isso. Por outro lado, para muitos outros usuários, isso foi um ganho; para os que não tiveram a avó. Mas eles ainda estão sujeitos a um risco maior.

O senhor vê possibilidade de controlar o preço dos coletivos?

Do ponto de vista de pequenos grupos, precisamos olhar com cuidado.

O que a ANS tem em mente?

Não sei, mas acho que tem de ficar claro o risco. É opinião pessoal, não está sendo discutido na agência ainda. A compra de um plano ainda é emocional - e precisa ser técnica. E a gente tem de olhar isso com carinho, no sentido de que, quer queira ou não o corretor, tem de haver clareza. Vantagens e desvantagens, tudo isso tem de ficar muito claro.

Cartilhas?

Mais que isso: documentação, alertas para situações de mais risco de reajuste.