Título: Explosão perto de Ahmadinejad causa tumulto
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Fonte: O Estado de São Paulo, 05/08/2010, Internacional, p. A17

Testemunhas falam em atentado contra o presidente iraniano, mas governo afirma que incidente foi causado por bomba caseira usada em festividades

TEERÃ Um explosivo foi lançado ontem contra o comboio em que o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, viajava na cidade de Hamadan, centro do Irã, disseram testemunhas. O governo e a agência oficial de notícias Irna apressaram-se em desmentir a hipótese de um atentado.

Segundo a Irna, a explosão foi causada por um simpatizante de Ahmadinejad que, feliz pela visita do presidente à cidade, soltou um rojão perto dos veículos que seguiam do aeroporto para um estádio. Apesar do desmentido, uma pessoa foi presa.

O incidente teve versões contraditórias. Testemunhas disseram à agência Reuters que uma bomba caseira tinha sido lançada por um homem na multidão que observava a passagem do comboio presidencial e algumas pessoas tinham ficado levemente feridas. Outros iranianos disseram à agência Associated Press que a explosão foi de fogos de artifício. "Foi um rojão, que produziu um estrondo e fumaça perto do local onde eu estava", disse Amin Mehrabi. "Muitas pessoas filmaram (o incidente) com as câmeras de seus celulares", acrescentou.

O vice-chefe de polícia, general Ahmad Reza Radan, declarou à Irna que as versões sobre uma bomba eram mentiras divulgadas pela mídia estrangeira. Inicialmente, os próprios sites iranianos alinhados ao governo informaram que um explosivo tinha sido lançado contra o comboio de Ahmadinejad, mas depois retiraram a notícia do ar ou mudaram a informação.

Segundo o site conservador Khabaronline.ir, ligado ao presidente do Parlamento, Ali Larijani, a explosão ocorreu perto de um micro-ônibus de jornalistas da comitiva presidencial, a 100 metros do veículo que levava Ahmadinejad. O site insistiu que se tratou apenas de uma "narenjak", termo usado para um tipo de explosivo caseiro do tamanho de uma bola de tênis, que muitos iranianos fabricam para os dias festivos, principalmente no ano-novo persa.

Após o incidente, Ahmadinejad discursou em um estádio e sua declaração foi transmitida ao vivo pela TV estatal. Aparentemente ele estava bem e não fez nenhum comentário sobre o incidente. Fotos da agência semioficial Fars mostram o presidente de pé, com a cabeça e metade do corpo para fora do teto solar de seu veículo blindado cercado por seguranças e uma multidão.

Ahmadinejad regularmente viaja às 30 províncias do Irã e suas visitas geralmente atraem milhares de simpatizantes que têm livre acesso ao presidente, sem que incidentes de segurança sejam registrados.

Na segunda-feira, durante uma conferência em Teerã, Ahmadinejad disse que Israel teria orquestrado um plano para assassiná-lo. "Os estúpidos sionistas contrataram mercenários para assassinar-me", declarou.

A acusação foi feita um dia após o site conservador Mashreghnews informar que as forças de segurança tinham detido um grupo terrorista em Teerã que planejava assassinar membros do governo. O site relacionou o grupo aos separatistas curdos.

Inimigos. Ahmadinejad, que vem perseguindo a oposição desde as eleições presidenciais de junho de 2009, é um populista de linha dura que acumulou inimigos nos círculos conservadores e reformistas na República Islâmica e no exterior.

Jim Walsh, especialista nas relações Irã-EUA, do programa de segurança do MIT, disse que o Irã tem interesse em tentar reduzir a importância do incidente, "por causa dos problemas internos após os protestos do ano passado contra as eleições presidenciais, nas quais, segundo a oposição, Ahmadinejad foi eleito de forma fraudulenta".

O governo, que enfrenta pressões econômicas, vem sentindo os efeitos das novas sanções internacionais impostas ao Irã por seu polêmico programa de energia nuclear. Os líderes iranianos respondem às pressões acusando o Ocidente de conspirar contra a República Islâmica e dizendo que seus opositores internos estão aliados às potências estrangeiras.

Rivais armados Jundollah Grupo rebelde muçulmano sunita contrário ao governo iraniano (xiita), assumiu a autoria do duplo atentado suicida de 15 de julho que matou 28 pessoas, entre elas membros da Guarda Revolucionária.

Organização dos Mujahedin do Povo É a principal facção da oposição no exílio - o Conselho Nacional de Resistência no Irã (NCRI). Tem bases no Iraque. Em 2002, o NCRI expôs o programa de enriquecimento de urânio do Irã.

PJAK O Partido da Vida Livre do Curdistão (PJAK) é uma ramificação do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que tomou armas em 1984 pela criação de um Estado. O Irã considera o PJAK um grupo terrorista.