Título: Brasil só reatará laços se ameaça de prisão de Zelaya for suspensa
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Fonte: O Estado de São Paulo, 01/08/2010, Internacional, p. A18

País, que não reconhece governo de Porfírio Lobo, mantém apenas um representante comercial em Tegucigalpa

O governo do Brasil não reatará relações diplomáticas com Honduras enquanto o ex-presidente Manuel Zelaya estiver sob ameaça de ser preso caso volte ao país, informou ontem o Ministério das Relações Exteriores. Desde o golpe militar que derrubou Zelaya da presidência, há um ano e um mês, o Brasil mantém apenas um representante comercial em Tegucigalpa, hoje o ministro Zenik Krawctschuk.

De acordo com o Itamaraty, o Brasil não reconhece o governo de Porfírio Lobo, eleito presidente em novembro, como não reconhecia o de Roberto Micheletti, que substituiu Zelaya após o golpe militar. No entanto, reconhece o Estado de Honduras. Daí, manter no país um representante político brasileiro, o encarregado de negócios.

O Itamaraty informou ainda que o Porfírio Lobo tem posição muito semelhante à adotada pelo Brasil, pois defende a volta de Zelaya e a suspensão de todos os processos abertos contra ele. Segundo o governo brasileiro, há informações de que Porfírio Lobo teme sofrer um golpe por parte dos mesmos que depuseram Zelaya, o sequestraram de pijamas e o largaram na Costa Rica.

Hoje, conforme o Itamaraty, ainda há muita insegurança em Honduras. O presidente é alvo de críticas de grupos de direitos humanos e enfrenta pressão dos oposicionistas, que defendem a convocação de uma Assembleia Constituinte. Pouco antes de viajar à África do Sul, para prestigiar a seleção de Honduras na Copa, Porfírio Lobo anunciou ter conhecimento de uma conspiração para tirá-lo do poder.

No ano passado, Manuel Zelaya voltou clandestinamente a Tegucigalpa e se instalou na Embaixada do Brasil, onde ficou por quatro meses e só saiu em janeiro deste ano. Durante sua permanência, a embaixada foi alvo de cerco militar. Comida, eletricidade e água chegaram a ser cortados como medida de pressão para que o Brasil entregasse o ex-presidente às autoridades.

O impasse só foi resolvido quando Porfírio Lobo assumiu o governo e concedeu um salvo-conduto para que Zelaya pudesse deixar o país. Desde então, o ex-presidente está exilado na República Dominicana, de onde reivindica o direito de obter um retorno incondicional a Honduras.