Título: Após Chile, México retoma relações com Honduras
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Fonte: O Estado de São Paulo, 01/08/2010, Internacional, p. A18

Segundo a chancelaria mexicana, há ""avanços significativos"" nos problemas derivados do golpe de Estado de junho de 2009

O governo do México anunciou ontem que está normalizando suas relações com Honduras, pois há "avanços significativos" nos problemas derivados do golpe de Estado de junho de 2009, que destituiu o então presidente Manuel Zelaya. A decisão foi tomada um dia após o Chile anunciar que estava enviando de volta seu embaixador a Tegucigalpa e reconhecendo o governo de Porfírio "Pepe" Lobo, eleito em novembro.

A decisão de México e Chile isola ainda mais o Brasil, que insiste em não reconhecer o governo de Lobo, alegando que ele foi eleito em uma votação organizada por um governo golpista (mais informações nesta página).

Os dois países decidiram retomar as relações diplomáticas com Honduras após a divulgação de um relatório de uma comissão de alto nível criada pela Assembleia-Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) para analisar a situação no país centro-americano.

Segundo a chancelaria mexicana, o relatório indica que "houve avanços significativos por parte do governo e outros atores hondurenhos para atender os principais problemas derivados do golpe de Estado de 28 de junho de 2009, e denota uma atitude positiva tanto do presidente Lobo quanto do ex-presidente Zelaya". O México tinha se oferecido em dezembro para receber Zelaya.

A chancelaria acrescentou que, diante de um cenário "mais propício ao entendimento e à reconciliação" por meio do "diálogo político e o fortalecimento da proteção dos direitos humanos" há um "ambiente favorável" para o eventual retorno de Zelaya a Honduras. O México une-se à visão favorável "da maioria dos países centro-americanos" na recente reunião do Sistema de Integração Centro-americana (Sica) em El Salvador sobre a reincorporação de Honduras à OEA.

Honduras foi suspensa da OEA em 4 de julho de 2009, uma semana após a deposição de Manuel Zelaya, que não ocasião estava promovendo uma consulta popular com o objetivo de reformar a Constituição, apesar dos impedimentos legais para isso.

O presidente deposto, que se encontra atualmente refugiado na República Dominicana, manifestou esta semana seu desacordo com a decisão de reintegrar Honduras como membro do Sica, fato que qualificou como um erro, já que foi decidido sem consenso, pois Nicarágua votou contra.

Na sexta-feira à noite, o Chile anunciou que estava enviando seu embaixador Sergio Verdugo Neira de volta a Honduras, restabelecendo as relações diplomáticas ao mesmo nível que se encontravam antes do golpe e superando a questão. O chanceler chileno, Alfredo Moreno, disse que o relatório da OEA constatou que houve significativos avanços no processo de normalização democrática e a defesa dos direitos humanos em Honduras.

"Nós reconhecemos que as eleições nas quais Porfírio Lobo foi eleito foram eleições livres. Ele obteve mais de 50% dos votos, muito na frente dos outros candidatos", disse Moreno.

Sobre os processos judiciais não cobertos pela anistia a Zelaya, o chanceler chileno disse acreditar que a questão será solucionada o quanto antes e em pleno respeito ao Estado de Direito de Honduras.

PARA LEMBRAR

Um golpe de Estado derrubou o presidente Manuel Zelaya em 28 de junho de 2009, quando ele tentava aprovar uma consulta popular que, segundo seus opositores, abriria caminho para uma reforma Constitucional, algo vetado pelas leis de Honduras. Zelaya foi enviado, sob a mira de fuzis, para a Costa Rica e Roberto Micheletti assumiu o governo. Honduras foi expulsa da Organização dos Estados Americanos (OEA) e, em 21 de setembro, Zelaya voltou clandestinamente a Honduras e buscou abrigo na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa.