Título: Banco amplia estratégia de internacionalização de empresas
Autor: Otta, Lu Aiko
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/08/2010, Economia, p. B1

Economista critica política de fortalecer a estrutura produtiva tal como está inibindo novos investimentos

Dos R$ 137 bilhões que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) emprestou no ano passado, 60% foram usados para comprar máquinas ou construir prédios, aumentando o que os economistas chamam de formação bruta de capital fixo. Os 40% restantes foram para capital de giro, exportação e compra de participações societárias na estratégia de formação de "campeões nacionais" executada pelo banco.

Os dados são de um levantamento realizado pelo economista Mansueto Almeida, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). "É uma política que só consolida o que já tem, mas não aumenta a competitividade da economia brasileira", comenta. "Não vejo por que aquele setor e não outro." Em 2009, o banco investiu R$ 3,5 bilhões para ajudar o frigorífico JBS a comprar empresas no exterior, R$ 750 milhões na fusão entre Perdigão e Sadia e R$ 400 milhões no frigorífico Marfrig.

No estudo "Desafios da Real Política Industrial Brasileira do Século XXI", Mansueto observa que a criação de empresas líderes e sua internacionalização fortalece a estrutura produtiva tal como está, inibindo o espaço para novos investimentos. Os principais clientes são do agronegócio e da mineração. Nesse sentido, a atuação do banco vai na direção contrária da política industrial, cujo objetivo é fortalecer setores intensivos em tecnologia.

"O banco não faz só aumento do capital produtivo", rebate Marcelo Miterhof, assessor da presidência do BNDES. "Ele tem outras ações de apoio ao desenvolvimento." A criação de grandes empresas nacionais é uma delas. Além disso, explica, o banco dá apoio a movimentos que partem do próprio mercado.

As operações de compra de ação, segundo ele, não são feitas com recursos do Tesouro nem com a fonte de financiamento tradicional do BNDES, que é o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). O dinheiro é captado no mercado. Ele reconhece, porém, que não é finalidade do banco fornecer recursos para capital de giro. Operações desse tipo só foram realizadas nos meses mais agudos da crise.

A construtora Camargo Corrêa, por exemplo, tomou R$ 200 milhões para essa finalidade. O mesmo foi feito pelos frigoríficos JBS e Bertin e pela Positivo Informática. As Lojas Americanas tomaram R$ 150 milhões, segundo o site do banco. Com a normalização do crédito bancário, a linha foi desativada.