Título: Coutinho encomendou estudo sobre subsídios do banco
Autor: Rodrigues, Alexandre; Silva, Cleide
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/08/2010, Economia, p. B4

Dados sobre repasses de recursos do Tesouro foram pedidos aos técnicos do banco pelo presidente do BNDES

Rio - O Estado de S.Paulo

Desde que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) começou a ser alvo de críticas pelo custo fiscal de sua política de crédito subsidiado para estimular investimentos, o presidente do banco, Luciano Coutinho, promete apresentar dados que reorientem a discussão.

Coutinho pediu aos técnicos do banco um estudo comparando os custos dos empréstimos de R$ 180 milhões e da equalização das operações do Programa de Sustentação do Investimento (PSI) pelo Tesouro Nacional aos benefícios para a economia.

O Tesouro empresta ao BNDES com base na Taxa de Juros de Longo Prazo (6%) e capta com a Selic (10,25%). Em julho, Coutinho disse ao Estado que a comparação entre custos e benefícios da relação com o Tesouro indicava um resultado positivo e afirmou que apresentaria as contas "em breve".

O BNDES diz que os cálculos ainda não foram fechados e estão em discussão com o Ministério da Fazenda. Entram na conta os empregos e impostos gerados pelos projetos viabilizados pelo banco desde o ano passado.

Em entrevista ao Estado na semana passada, o economista Marcelo Nascimento, gerente do Departamento de Pesquisa Econômica do BNDES, apontou a influência do banco na recuperação da taxa de investimento da economia após a crise como indicador definitivo para justificar a ação anticíclica do banco.

Segundo ele, o BNDES contribuiu com pelo menos 5 pontos porcentuais na recuperação de 26% do investimento na economia entre o primeiro trimestre de 2009 e o deste ano. "Sem o PSI, a recuperação teria sido bem menor." O investimento como proporção do PIB chegou a 18% este ano, após ter despencado para 16,9% em 2009. O banco projeta 18,9% no fim do ano, recuperando o nível pré-crise.

O aumento de 49% dos desembolsos do BNDES no ano passado elevou para 18% a participação do banco para a parcela do investimento em novas máquinas e construção de unidades fabris no País, diz Nascimento. O número costumava ficar em torno de 8% antes da crise e subiu para 11% já em 2008.

Apesar do salto, o BNDES espera uma queda dessa participação este ano com o restabelecimento do crédito privado. De acordo com Nascimento, o PSI foi prorrogado até o fim deste ano para consolidar a recuperação do investimento no cenário de incertezas externas, mas não é intenção do banco continuar aumentando a influência na economia. "Não podemos continuar a financiar tudo."

Nascimento lembra que foi a escassez de crédito da crise que obrigou o BNDES a recorrer ao Tesouro para incentivar a retomada de investimentos e garantir a ampliação de oferta na economia. O PSI completou um ano em julho com R$ 69 bilhões em operações contratadas com juros reduzidos a 4,5%. Já foram liberados R$ 46,5 bilhões, a maior parte para bens de capital.

Segundo o economista do BNDES, a maior parte dos desembolsos do PSI ocorreu entre o último trimestre de 2009 e o primeiro deste ano. Como entre a obtenção do financiamento e o início da nova produção na indústria há uma defasagem estimada em até seis meses, só agora a oferta adicional está aparecendo.

"A contribuição do PSI (na expansão de oferta) começa a aparecer a partir de agora. O aumento de capacidade se dará efetivamente do terceiro trimestre de 2010 em diante", diz Nascimento. O efeito esperado pelo BNDES poderá se somar à desaceleração identificada na ata da última reunião do Conselho de Política Monetária (Copom) na redução de pressões inflacionárias.