Título: Em nota, associações defendem o BNDES
Autor: Rodrigues, Alexandre; Silva, Cleide
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/08/2010, Economia, p. B4

Documento assinado por 12 representações da indústria reage a críticas feitas ao banco

Alexandre Rodrigues, Cleide Silva, Francisco Carlos de Assis, Marcelo Rehder e Márcia de Chiara - O Estado de S.Paulo

Doze associações industriais subscreveram manifesto de apoio à política de financiamentos subsidiados adotada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O documento, de 20 parágrafos, foi publicado ontem nos principais jornais de circulação nacional, em desagravo às críticas que o banco tem recebido nos últimos dois meses por manter medidas emergenciais adotadas para atenuar os impactos sobre a indústria na crise.

O movimento foi liderado pelo presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Luiz Aubert Neto. "A ideia surgiu porque estamos assistindo a um ataque violento ao BNDES. Liguei para todo mundo (associações nacionais) e falei que tínhamos de fazer a defesa do banco. Se não fosse o BNDES, estaríamos mortos aqui, chorando sangue", exagerou.

Alguns dirigentes de entidades signatárias disseram ter sido surpreendidos "pela magnitude do teor do documento". Em alguns casos, não houve unanimidade em relação ao texto, que circulou pelas mesas dos dirigentes empresariais nos últimos 20 dias. A direção do BNDES preferiu não comentar o teor do manifesto. "Sem dúvida, reconhecemos que o desembolso feito pelo Tesouro é um custo para a sociedade. Portanto, é indispensável que ela tenha conhecimento disso e decida se quer ou não continuar pagando a conta", diz o documento.

O presidente da Abiplast, José Ricardo Roriz Coelho, disse que o objetivo foi ressaltar o papel do BNDES durante a crise, quando, segundo ele, os bancos privados deixaram de financiar as empresas e perderam participação no mercado de crédito. "Esses bancos (privados) estão fazendo essas críticas ao BNDES sem fundamento", acusa.

Aubert Neto, da Abimaq, faz coro: "A maioria das críticas vem de economistas-chefes de tudo quanto é banco, justamente o pessoal que mais perde com isso. Apesar da defesa ao BNDES, Roriz reafirmou a crítica à parte operacional do repasse, especialmente às médias e pequenas empresas. Ele reconhece o papel de contenção da crise, mas diz que "agora é preciso mudar o foco".

Pressões políticas. José Luiz Alquéres, presidente da Associação Comercial do Rio - que não integrou o rol de 12 entidades empresariais - não aprova a política de juros subsidiados. Para ele, o governo arrisca as contas públicas sem deixar claros os critérios para aplicação dos recursos do Tesouro. Desde a crise, o banco estatal teve seu caixa reforçado em R$ 180 bilhões emprestados pelo Tesouro, a juros inferiores à taxa Selic.

"A Associação Comercial é radicalmente contra qualquer concessão de subsídio que recaia sobre o Tesouro - portanto sobre o total dos contribuintes - por via administrativa ou de política interna de entidades, por mais reputadas que sejam", afirmou. Ex-presidente da Light, ele disse temer a repetição de pressões políticas que, no passado, levaram o BNDES a financiar projetos equivocados. "É um risco injustificável. E uma decisão arbitrária a escolha dos beneficiados", criticou. "Já vimos este filme, e ele não acaba bem."

Paulo Butori, presidente do Sindipeças (que representa as fabricantes de autopeças), diz que, na falta de uma política industrial mais definida, o BNDES tem assumido o papel de fomentar investimentos no País. Por isso, ele e as demais entidades que assinam o documento discordam "de algumas críticas que o banco tem sofrido recentemente". "Precisaríamos de mais uns três ou quatro bancos que fizessem o mesmo."

O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Cledorvino Belini, aprovou o manifesto, embora a entidade não esteja entre os signatários. Disse que não assinou porque não foi "consultado" pelas associações. "O papel do BNDES é e foi muito importante, principalmente na crise, quando alavancou vários setores da economia."

No informe publicitário "Em defesa do investimento", as associações condenam "os ataques sofridos pelo BNDES, que ganharam vulto nas últimas semanas". De acordo com o comunicado, "os responsáveis por esses ataques são os que sempre defenderam as ideias do pensamento econômico que prevaleceu nas últimas décadas, que levou o mundo à maior crise econômica dos últimos 80 anos".