Título: Promessa de relação privilegiada atraiu empresários
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/08/2010, Internacional, p. A12

Cenário: Ruth Costas - O Estado de S.Paulo

Muitos empresários brasileiros animaram-se com os negócios com a Venezuela na bonança petrolífera de 2007 e 2008. Para eles, havia três atrativos. Primeiro, a existência de um mercado forte (inundado de recursos do petróleo), cuja demanda não era suprida internamente. Segundo, as iniciativas do governo Lula para promover a Venezuela como parceira no comércio e investimentos - a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial abriu um escritório em Caracas e o BNDES liberou bilhões em créditos. Terceiro, o fato de o Brasil ser uma aposta de Caracas para substituir negócios com os EUA e Colômbia. "Estamos numa fase de nacionalização de empresas. Menos das brasileiras", disse Chávez.

Em 2008, as vendas para a Venezuela responderam por 20% do superávit brasileiro. E o otimismo sobre a parceria bilateral motivou a aprovação da entrada da Venezuela no Mercosul no Congresso, no ano seguinte, apesar da impulsividade de Chávez recomendar cautela. Agora, parte dos que se animaram com a Venezuela percebe que pode ter ido rápido demais. O socialismo bolivariano empurrou o país para uma recessão mesmo com a recuperação do petróleo. O PIB caiu 3,3% em 2009 e a inflação foi de 25,1%.

Para quem exporta só produtos básicos para as distribuidoras estatais, os negócios vão relativamente bem. Mas os brasileiros que investiram no país e têm de importar insumos ou bens não-essenciais sofrem com o aperto no controle de câmbio e instabilidade institucional. Para piorar, com problemas de caixa, Chávez tem dificuldades para cumprir compromissos financeiros.