Título: Construção paga mais que indústria
Autor: Landim, Raquel
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/08/2010, Economia, p. B1

Salário médio dos recém-contratados pelas construtoras chegou a R$ 888 em junho; aumento é de 35,2% em relação ao início do governo Lula

A construção civil está pagando melhor os trabalhadores iniciantes do que qualquer outro setor da economia, incluindo a indústria. Em junho deste ano, o salário médio dos profissionais recém-contratados pelas construtoras atingiu R$ 888. A indústria pagou R$ 858 e o setor de serviços, R$ 872,5.

Em relação ao início do governo Lula, o salário médio dos empregados com carteira assinada admitidos na construção civil subiu 35,2%. Em janeiro de 2003, estava em R$ 657, enquanto um operário iniciante na indústria recebia R$ 704.

Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, e consideram apenas os trabalhadores formais. Fábio Romão, economista da LCA Consultores, pondera que a informalidade é maior na construção, logo os baixos salários podem não estar sendo considerados.

"O mercado está muito aquecido na construção civil pela falta de mão de obra qualificada", diz o diretor de relações capital e trabalho do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sintracon) de São Paulo, Antonio de Sousa Ramalho Junior.

A agricultura registrou o melhor reajuste para os recém-contratados entre todos os setores: 41,1%. A remuneração da área agrícola ainda é bastante indexada ao salário mínimo, mas os salários ainda são os piores: R$ 600.

Barganha. Os trabalhadores têm hoje de um poder de barganha significativo na hora de negociar salários. "Os resultados das campanhas salariais deste ano serão muito bons", acredita o coordenador de relações sindicais do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio Econômicos (Dieese), José Silvestre Prado de Oliveira.

Ele estima que, em 2010, quase 100% das negociações salariais vão pelo menos repor a inflação. Até hoje, 2007 foi o melhor ano para os trabalhadores, com 97% das negociações repondo a inflação e 88% com ganho real. A construção civil, cuja data-base é maio, obteve ganho real pelo sexto ano consecutivo.

De acordo com o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre, a categoria adotou a política de elevar os salários iniciais, para inibir a rotatividade. Nos últimos oito anos, os metalúrgicos acumularam ganho real de 23%, mas a alta chegou a 32% no piso da categoria. Com as autopeças, o ganho real é de 18%, enquanto o reajuste real do piso chegou a 37%.

Segundo o economista-chefe da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castello Branco, os reajustes estão compatíveis com a recuperação da produção. "Até o momento não detectamos uma pressão forte de custos vinda dos salários."